Richard Wagner chegou a Veneza em Agosto de 1858. Da sua vivência na cidade recorda «uma atmosfera crepuscular e solene», onde conviviam nobreza, beleza e decadência. Por sua vez, os ecos da música de Wagner inspiraram o talentoso Uri Caine a reinventar algumas das suas composições, num registo que viria também a empregar com a música de Mozart, Schumann, Mahler e Bach (numa soberba reinterpretação das Variações Goldberg). Quebrando barreiras e devorando géneros musicais, o modus operandi do Uri Caine Ensemble consiste numa sucessiva aproximação de estilos e eliminação de fronteiras estéticas. Consegui-lo com a agilidade, a organização, a liberdade e, amiúde, a transcendência que Wagner e Venezia revela - no qual, vinte anos praticamente decorridos, ainda sobressai a vitalidade original -, fazendo as apropriações, os arranjos e as improvisações da música do genial compositor e maestro alemão soar de forma quase instintiva e natural, sem perder a erudição dos seus modelos – excertos de Tristão e Isolda, Tannhäuser ou Lohengrin, por exemplo - já é uma proeza que não estará ao alcance de muitos…