a dignidade da diferença
25 de Setembro de 2011

 

 

Como consequência natural da reunião ao vivo concretizada em 2010 no Noise Pop Festival (de S. Francisco), Thao Nguyen e Mirah gravaram esta obra belíssima, simplesmente intitulada Thao & Mirah, co-produzida por Merrill Garbus, autora, nos tUnE-yArDs, do notabilíssimo e primitivo Whokill. Thao & Mirah surpreende pela convivência algo inesperada duma folk minimal, enxuta e alternativa, com a aspereza, a pulsação rítmica e o silêncio dos Young Marble Giants, a secura artesanal da novíssima e excelente Laura Marling, ou, aqui e ali, uma piscadela de olho à pop molecular dos Stereolab - não por acaso, digníssimos descendentes das admiráveis miniaturas sonoras dos Young Marble Giants. Dito de outra forma: uma magnífica tela musical superiormente organizada em tons outonais, fruto de uma pessoalíssima e singular matéria musical em forma de rascunho, constituída por desenhos melódicos oblíquos e criativos, textos telegráficos, pequenas arritmias no uso dos materiais sonoros ou cativantes sussurros vocais, do género small is beautiful e sem deixar de fora uma militante opção pela independência musical. Música rara e emotiva como poderão confirmar na excelente actuação que tiveram no Kexp Studio e que aqui mostramos.

 

 

 

 

17 de Junho de 2009

 

 

E à terceira tentativa com Blood From a Stone, depois dos sobreexcelentes Little Things e Rykestrasse 68, Hanne Hukkelberg consegue criar, com o aperfeiçoamento de todas as experiências de laboratório usadas nas gravações anteriores, a obra de arte completa. Uma radiografia assombrosa do mundo actual em que vivemos enlaça-nos perigosamente rumo a uma atmosfera de pesadelo, perturbação, estranheza e revelação.

Textos quase telegráficos - mas com substância - resumem emoções (humanas?) escondidas atrás de máscaras, ora invadidas pelo medo ora pela dor ou pela dificuldade de relacionamento, e adivinham os seres vagamente estranhos que somos. Histórias de um mundo misterioso e fascinante como se de pura ficção científica se tratasse.

Mas o que mais nos espanta é o absoluto domínio que Hanne Hukkelberg exerce sobre a matéria musical, criando uma complexa mas francamente acessível teia sonora. Contactos imediatos com os A.R.Kane de Sixty Nine, um baixo ligado à tomada que acompanha, literalmente, a batida do coração, a leitura futurista de Soak de Mimi Goese e dos Hugo Largo, o som metálico aprendido nas audições de Colossal Youth e o espantoso aproveitamento dramático da percussão como já não se (ou)via desde Music For A New Society – entre outras coisas sublimes -, convergem harmonica e ritmicamente para uma paleta sonora impressionista e esteticamente visionária que atravessa todas as fronteiras possíveis - e que só por acaso sabemos situar-se geograficamente no norte da europa.

Midnight Sun Dream é a canção de embalar em ambiente surrealista, Blood From A Stone e Bandy Riddles convocam a Stina Nordenstam de And She Closed Her Eyes para cantar sobre miniaturas de rock falsamente exuberante em banho-maria, Salt Of The Earth junta a tensão dramática de Cale e Bernard Herrmann a uma Diamanda Galas em admirável estado de contrição e é uma das mais inesquecíveis canções de que há memória. E ainda falta recordar a espantosa desconstrução de Crack em devastadora derrocada fatal e a inclassificável (e indecifrável?) Bygd Til By, solução assombrosa que Björk não encontrou para resolver Vespertine.

Quanto ao que fica por dizer, tudo se resume à incredulidade que sentimos quando escutamos o disco: Mas de onde é que isto vem?

Não adivinho competição à altura para lhe tirar o título de gravação do ano, mas, sinceramente, já lhe estou a reservar lugar certo junto de clássicos intemporais da estirpe de Rock Bottom, Highway 61th Revisited, Astral Weeks ou Veedon Fleece, Swordfishtrombones ou Blood Money, Starsailor, Porcupine, I Want To See The Bright Lights Tonight, Motion ou Mettle.

Uma obra genial que quero guardar só para mim.

 

Salt of the earth

 

Seventeen

 

07 de Abril de 2008

Dummy - Portishead (1994)

 

Tudo o que se disse sobre este disco não fugiu muito disto:

Minimalismo radical dos Young Marble Giants transposto para os anos 90, assimilando (quase) toda a música de feição electrónica criada desde então. Pop negríssima impossivelmente perfeita. Cruzamento de dados da folk, com os ficheiros de Neneh Cherry e dos Soul II Soul. Descida dos Blue Nile à terra, interrompendo os seus habituais álbuns bissextos. Hip-hop em desaceleração para almas brancas e sensíveis. Trip-hop em absoluto estado estado de graça.  Dizer mais o quê?

Só foi preciso o «clic» dado pelos Massive Attack (autores do mítico Blue Lines), a visão sombria de Bristol e uma voz desamparada pronta a despedir-se do mundo para nos dar o clássico absoluto da década (com «Motion» da Cinematic Orchestra).

 

 

 

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