Conhecido pelo seu temperamento violento e por ter assassinado a sua prima Maria d’Avalos, com quem casara em 1586, e o amante desta, o duque de Ândria, ao descobri-los em flagrante delito, Carlo Gesualdo, príncipe de Venosa, merece figurar na história sobretudo pelas suas qualidades musicais, onde sobressaem o experimentalismo polifónico, o cromatismo (que, com ele, atingiu o seu zénite) e uma complexidade harmónica que fascinou em pleno século XX, por exemplo, o genial compositor Igor Stravinsky. Possuidor de uma técnica pouco ortodoxa e de uma leitura individualista e avançada para a música da época, Gesualdo, por força das suas excentricidade e instabilidade emocional, trouxe consigo a modernidade para o coração da música italiana, modernidade essa que surge representada por uma ardente expressividade ou pelas suas assombrosas explorações cromáticas, cuja ousadia, ampliada pelos ilimitados e originais recursos estilísticos do seu autor, criou uma música inconformada e fora do comum, antecipando algo da estética musical que o excessivo Richard Wagner mais tarde nos deu a conhecer. O Hilliard Ensemble, na sua rigorosa, límpida e expressiva leitura interpretativa do Quinto Libro di Madrigali, faz inteira justiça à prodigiosa personalidade musical do seu criador. Sublime.