A dedicação de Giuseppe Verdi à criação da partitura de La Traviata em pouco mais de quatro semanas – mais precisamente entre a estreia de Il Trovatore em Roma, no dia 19 de Janeiro de 1853, e o dia 6 de Março do mesmo ano – ilustra bem a fecundidade do seu génio, bem como o seu desembaraço na composição. Não é esse, contudo, o seu maior feito, pois La Traviata impressiona sobretudo pelo seu estilo tão distinto da ópera anterior, Il Trovatore. Com efeito, enquanto esta última pulsa com as paixões de amor, ódio ou vingança, confinadas aos jardins palacianos, castelos ou masmorras - cenários rigorosamente apropriados ao incentivo de tais sentimentos – a primeira, pelo contrário, quando palpita é de dor e decorre em interiores burgueses, com música a condizer: viva, espirituosa e delicada, tão rica nas suas subtilezas e expressividade melódica que consegue transmitir, ainda hoje, de forma tão cortante e eloquente, as sensibilidades, esperanças e vicissitudes das suas personagens. A versão dirigida pelo maestro James Conlon, com Renée Fleming, Rolando Villazón e Renato Bruson nos principais papéis, advoga de modo convincente.