Horsedrawn wishes, dos Rollerskatte Skinny (1997)
Canções incendiárias, cheias de fantasia e a lembrar uma estética de desenho animado, com a electricidade dos Velvet, Sonic youth e My Bloody Valentine e o lado sonhador dos Byrds, Brian Wilson e bandas sonoras de chocolate. Quem as criou passou como um cometa pelo ano de 1997, provavelmente já todos se esqueceram deles, mas a sua música permanece tal e qual como era: cheia de arestas limadas, afiadas e electrocutadas, derramando a lava incandescente de um vulcão e transgredindo regras, leis e conceitos adquiridos. Falo dos Rollerskate Skinny, a música que descrevo pertence ao espantoso «Horsedrawn Wishes», álbum vertiginoso, sobrenatural e irrepetível.
Run to ruin - Nina Nastasia (2003)
Depois de «Dogs» e «The blackened air», a arte de Nina Nastasia surge refinada em todos os seus pormenores. Um canto fúnebre, falsamente doce e impossivelmente tenso, encaixado em melodias que de tão sinuosas e transviadas que são, parecem sobreviver fragmentadas e, aparentemente, à deriva, e que tem para nos oferecer uma quase oração cujas palavras têm o peso mais profundo que uma alma negra e esquizofrénica pode habitar. Prejudica um pouco a empatia com as canções, quando julgamos ser todo o suporte instrumental exageradamente rude, cru e desarrumado, até nos apercebermos que, afinal, os sons artesanais criam uma ambiência folk irresistível e venenosamente melódica onde, afinal, tudo está no sítio certo. Desde o ruído das serras eléctricas, aos gemidos de um doente em estado terminal, sem esquece a dissonância, as explosões e os sussurros até aos cortes brutais a golpes de machado. Neste universo, convive-se, sem perigo, com pedaços de tango, sublimes arranjos de cordas, espasmos e murmúrios de violinos, atingindo os seus pontos altos na intensidade dramática de «You her and me» e nessa prodigiosa música de câmara que é «Superstar». Não haveria Nina Nastasia se não tivessem aparecido P. J. Harvey, Aimee Mann, Suzanne Vega, Laura Nyro e, talvez, Carla Bozulich, mas criou um universo tão pessoal, que já não precisa delas para coisa nenhuma.
So tonight that I might see - Mazzy Star
Um magnífico disco crepuscular de 1993, vindo ao mundo por obra e graça dos Mazzy Star - essencialmente David Roback e a sublime voz narcótica (e o rosto) de Hope Sandoval -, com a ajuda (espiritual) dos Love, dos Velvet Underground e de mais dois ou três responsáveis pelo renascimento do rock americano em meados da década de 1980.