a dignidade da diferença
11 de Maio de 2014

 

 

«We were very conscious that we were plunging into rock without any real knowledge of, or experience in, the medium. We had played Cage and Stockhausen, African and Indian music, and I thought we could simply bring all that to rock. But we knew almost nothing about the roots of rock’n’roll. We all improvised, of course, but in a contemporary-music style. In retrospect, creating a rock band with no rock musicians was a bad decision on my part. Still, I considered myself the most eclectic composer on the planet: I was confident that whatever the others couldn’t do I could write. (…) So. The grand experiment… was it just a failure? Certainly it was for us: friendships were destroyed, and the band was hardly a career stepping stone for anyone. But, over the decades, I’ve become aware of a shadow public that thought us mythic, and the current wave of British rock was credited the band with originality and integrity. One thing is certain: we were unlike anything. Before or since.»

Joseph Byrd

 

27 de Outubro de 2012

 

 

Além da ânsia pela novidade e do consequente enfrentamento com os gostos de uma parte da sociedade, existe outra característica definidora das vanguardas: a busca de respostas às novas necessidades. E este é o argumento mais progressista das vanguardas que tem, como último objetivo, uma certa crítica ao modelo de sociedade predominante e a busca de propostas de transformação adequadas ao espírito dos tempos vindouros. Este argumento de crítica e transformação social justifica o mecanismo da abstração e da prática sistemática da rutura com as linguagens estabelecidas. Isto manifesta-se no que se denominam neovanguardas: aqueles movimentos que recuperam o culto ao novo e ao estranho e que tentam superar os condicionamentos da tradição e das convenções. (…) Entretanto, o movimento das vanguardas – com sua vontade de rutura com a tradição, culto à novidade e à originalidade, exploração de novas formas abstratas adequadas aos novos tempos, ânsia de transgressão dos limites estabelecidos, recriação das reproduções mecânicas geradas pelas novas tecnologias – volta a aparecer como uma necessidade permanente. É possível falar de vanguarda quando conceitos como modernidade ou Zeitgeist estão censurados, quando práticas desconstrutivistas e pós-modernas desvelaram as ficções e mitos das vanguardas? O que as neovanguardas anunciam de futuro e frívolos jogos à moda e de nostalgia das autênticas vanguardas? O que ocorre quando as vanguardas se institucionalizam e conseguem converter-se em Academia, em gosto estabelecido? É neste momento quando os novos artistas devem eleger entre esta vanguarda domesticada ou a liberdade. Manfredo Tafuri já havia falado, em Teorie e storia dell’architettura (1968), «da dificuldade que as gerações mais jovens encontram para abandonar o mito de uma vanguarda perene» E mesmo que este desejo já tenha sido revelado como mito e como contínua frustração, cada geração e cada momento histórico lança novamente o velho apelo da vanguarda. Um esforço necessário para a evolução da arquitetura.  

A Modernidade Superada, de Josep Maria Montaner.

 

12 de Maio de 2012

 

Madre Superiora (1939)

 

Tamara de Lempicka (1898-1980), natural de Varsóvia, criou uma obra caracterizada por uma significativa liberdade e ambiguidade estética. O seu trabalho marcou uma época, influenciou a pintura moderna e, desdobrando-se numa série de estilos mais ou menos próximos entre si, evoluiu naturalmente duma ingenuidade inicial – um começo aparentemente vanguardista, promissor, mas ainda algo tímido e inseguro – para formas arquitetónicas mais oblíquas, cuja matriz revela um traço seguramente mais complexo, transgressor, detalhado e sombrio. Ficam aqui alguns exemplos dessa evolução estética personalizada e perversamente contagiante. Elegantes e geométricas variações quase sempre muito conseguidas de Art Déco, do cubismo, pós-cubismo, surrealismo, expressionismo ou abstracionismo. Um percurso artístico dominado por um espírito ousado e transgressor que se confundiu amiúde com a sua própria vida, tão abastada quanto exposta em demasia.

 

A Bela Rafaela (1927)

 

Mulher Adormecida (1935)

 

Retrato do Príncipe Eristoff (1925)

 

publicado por adignidadedadiferenca às 14:27 link do post
18 de Fevereiro de 2012

 

 

Nascido em Paris, no ano de 1883, Edgard Varèse, compositor e maestro francês naturalizado americano em 1926 - onde viria a falecer em Nova Iorque no ano de 1965 -, fundou (e dirigiu) a New Symphony Orchestra (1919), a Liga Internacional de Compositores (1921) e a Associação Pan-Americana de Compositores (1927), com a finalidade de se dedicar à música moderna. Varèse foi um dos mais criativos e originais compositores do século XX, cuja obra sofreu uma rutura estética assinalável com a sua chegada ao continente americano, nela se destacando a importância vital do timbre, da abstração e do contraste da massa sonora. Criador e experimentador de sonoridades eletroacústicas, esteticamente vizinhas do futurismo, Varèse, fruto do seu trabalho insistente e da sua imaginação prodigiosa, trouxe uma nova visão estética para a música contemporânea, seguindo intencionalmente uma direção contrária à corrente musical dominante na época, na qual os pilares assentam numa exploração de materiais sonoros idóneos à conquista de novos sons, ou na aplicação de inovadoras e estranhas estruturas musicais, ou, ainda, na procura de diferentes significados para uma conceção original do tempo e do espaço, elementos que evidenciam uma extraordinária diversidade e versatilidade musical, cujo arrojo estético é capaz de o classificar e consolidar entre os nomes maiores da corrente vanguardista.

 

29 de Maio de 2011

 

«Um dos problemas mais instigantes da vanguarda – e o que faz muitos artistas instigantes fugirem dela como o diabo da cruz – é sua dúbia disposição em face da ambição, que lhe é intrínseca, de tornar-se a norma. Recentemente ouvi de Arto Lindsay que os músicos e produtores dessas formas mais em voga de dance music (techno) são consumidores vorazes de justamente desse reportório heroicamente defendido por Augusto (de Campos). Assim, muito mais do que Paul (McCartney) pode ter ouvido Stockhausen, esses garotos ouvem Varèse e Cage, Boulez e Berio. E, me diz Arto, só falam nisso. O que pensar? Nos anos 70, vozes conservadoras (e muito úteis) já se lamentavam para protestar contra o “modernismo nas ruas”. Mas onde e como se formará o ouvido coletivo naturalmente familiarizado com a músicas dos pós-serialistas ou pós-dodecafônicos?

 

 

E que mundo será esse em que uma música assim soe como música ao ouvido de “todos”? Ao ver quadros de Monet, meu filho de cinco anos comentou que eles eram “muito malfeitos se vistos de perto”, embora “parecessem bem-feitos” se olhados à distância. Eu próprio não sei dizer exatamente por que a música de Webern (sobretudo a mais radical) me pareceu indiscutivelmente bela desde a primeira audição. Serão os garotos da techno-dance um embrião de minoria de massa? O que acontecerá ao ouvido tonal tal como o conhecemos se o fracasso de público da música mais impopular for superado? Quando eu vi MTV pela primeira vez em Nova Iorque, escrevi um artigo intitulado “Vendo canções” (intencionalmente usando os dois sentidos da palavra vendo) em que faço perguntas um pouco mais superficiais mas que apontam na mesma direção: os procedimentos de filmes de vanguarda, jogados no lixo pelo cinema sério e pelo comercial, tinham finalmente se refugiado ali naqueles filmecos de rock’n’roll, que eram a um tempo ilustrações erráticas das canções e anúncios dos discos correspondentes. Hoje não aguento assistir a vídeos de rock por muito tempo: o excesso de imagens esforçando-se por parecerem bizarras me entediam, sobretudo na velocidade em que são editadas. Mas a questão permanece: as referências ao Chien Andalou ou a Metropolis – e todo o permanente parentesco com Le sang d’un poète, de Cocteau – estão num vídeo de rock exatamente e apenas com formas de Mondrian na minissaia de uma puta ou só agora o “modernismo” ou as “vanguardas” começam a perder direito a esses nomes de ruptura?»

Excerto do livro «Verdade Tropical», de Caetano Veloso

 

 

Webern, 5 Andamentos, para Quarteto de Cordas

publicado por adignidadedadiferenca às 01:39 link do post
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