a dignidade da diferença
25 de Abril de 2015

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«Publicado em 1835, O Pai Goriot é um dos mais célebres romances de Balzac. Trata-se sem dúvida da expressão literária mais conseguida da estrutura das desigualdades na sociedade do século XIX, e também do papel central detido pela herança e pelo património. A trama de O Pai Goriot é límpida. Antigo operário numa fábrica de massas alimentícias, Goriot fez fortuna no negócio das massas e dos cereais durante o período revolucionário e napoleónico. Viúvo, sacrificou tudo para casar as filhas (…) com a melhor sociedade parisiense dos anos 1810-1820. Ficou apenas com o essencial para assegurar um tecto e alimentação numa pensão sórdida, onde vem a conhecer Eugène de Rastignac, um jovem nobre falido ali chegado da sua província para estudar Direito em Paris. Cheio de ambição, atormentado pela pobreza (…) tenta, graça a uma prima afastada, penetrar nos grandes salões abastados onde os aristocratas, a alta burguesia e a alta finança da Restauração convivem. (…) Depressa perderá as ilusões dando conta do cinismo de uma sociedade totalmente corrompida pelo dinheiro. Descobre com horror de que forma Goriot foi abandonado pelas filhas, que tinham vergonha do pai e que o deixaram de visitar desde que receberam a sua fortuna, de tal forma estavam preocupadas com os seus sucessos no mundo. O velhote acaba por morrer na mais sórdida miséria e solidão. Rastignac será o único a comparecer no seu enterro. (…) Subjugado pela visão das riquezas de Paris que se lhe oferecem ao longe (…) decide lançar-se à conquista da capital: (…) A sua educação sentimental e social está terminada, doravante também ele será implacável.»

Thomas Piketty, O Capital no século XXI.

02 de Novembro de 2014

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«A distribuição da riqueza é uma das questões mais vivas e mais debatidas hoje em dia. Mas que sabemos verdadeiramente sobre a sua evolução a longo prazo? A dinâmica da acumulação do capital privado conduzirá inevitavelmente a uma concentração cada vez mais acentuada da riqueza e do poder em poucas mãos, tal como Marx pensou no século XIX? Ou será que, à imagem do que pensou Kuznets no século XX, as forças de equilíbrio do crescimento, da concorrência e do progresso técnico levam espontaneamente a uma redução das desigualdades e a uma estabilização harmoniosa nos estádios avançados de desenvolvimento? Que sabemos realmente sobre a evolução da distribuição do rendimento e do património desde o século XVIII, e que ensinamentos podemos daí retirar para o século XXI? São justamente estas as questões às quais tentarei responder neste livro. Digamo-lo desde já: as respostas que encontrei são imperfeitas e incompletas. Mas fundam-se em dados históricos bastante mais amplos que os usados em trabalhos anteriores., abrangendo três séculos e mais de vinte países, e apoiando-se num contexto teórico repensado que permite uma melhor compreensão das tendências e dos mecanismos em presença. O crescimento moderno e a difusão do conhecimento permitiram evitar o apocalipse marxista, embora não modificassem as estruturas profundas do capital e das desigualdades – ou, pelo menos, não tanto quanto pudemos imaginar nas décadas optimistas do pós-Segunda Guerra Mundial. Desde o momento em que as taxas de rendibilidade do capital ultrapassam de forma duradoura as taxas de crescimento da produção e do rendimento – o que foi o caso até ao século XIX e indiscutivelmente parece poder voltar a ser a norma no século XXI -, o capitalismo produz de forma mecânica desigualdades insustentáveis, arbitrárias, voltando a pôr radicalmente em causa os valores meritocráticos nos quais se fundam as nossas sociedades democráticas.»

Thomas Piketty, introdução a «Le Capital au XXIe Siècle».

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