a dignidade da diferença
09 de Junho de 2008

 

Jerry Lewis é o cineasta mais notável do burlesco na segunda metade do século XX. Começa por se apropriar da tradição, «copiando» os grandes autores do burlesco, mas ao protagonizar um momento de viragem história no seio da indústria cinematográfica americana – marcada pelo desmantelamento das referências clássicas -, procura testar criativamente os seus limtes, alargando, sempre que pode, os seus horizontes. Após uma série de filmes menores, onde fez dupla com Dean Martin, o talento de Jerry Lewis começa a destacar-se, finalmente, nos filmes realizados pelo enorme Frank Tashlin, como «Pintores e raparigas» e «Um espada para Hollywood».

 

Segue-se a separação natural de Dean Martin, cujos números de canto só serviam para «emperrar» a imaginação vertiginosa do companheiro. Lewis torna-se, então, autor dos seus próprios filmes onde, numa filmografia excepcional em que é essencial a utilização do som como meio de expressão primordial, se destacam três filmes absolutamente espantosos: o génio gestual absoluto e a sátira cruel aos galãs da época (dirigida a Dean Martin, obviamente) em «The nutty professor», a inacreditável encenação dessa autêntica casa de bonecas criada em «The ladies’ man», com alguns dos mais belos movimentos de grua e, por fim, o fabuloso «The patsy» que nos apresenta a incrível história da imposição à força de uma vedeta e que, ainda hoje, vale como uma das mais lúcidas análises à «fábrica de sonhos» de Hollywood (e não só). Quase todos os seus filmes vivem, livremente, de uma sucessão de gags de uma riqueza assombrosa: gags visuais (a célebre cara de borracha), verbais, sonoros, destruição total ou parcial de cenários e a importância e presença fundamental do corpo como elemento de (in)adaptação a tudo o que o rodeia. Para terminar, deixo a mais notável explicação acerca do virtuosismo do autor, actor e personagem Jerry Lewis, que pertence ao n.º 197 dos «Cahiers du Cinéma» cujas notas foram traduzidas e publicadas pela Cinemateca Portuguesa numa edição de Julho de 1981, pág, 26, e que passo a transcrever: «Há três posições criadoras em Lewis: em frente da câmara (actor), atrás (cineasta) e no interior (personagem), Seria errado confundir rapidamente a primeira e a última. Se é raríssimo que a falta de jeito do actor sirva o virtuosismo do personagem, é, pelo contrário, frequente nos seus filmes que a inadaptação do personagem não se manifeste senão graças aos talentos do actor. Exemplo deste último caso: a entrada de Jerry em «The patsy». Destreza do personagem e virtuosismo do actor conjugam-se muitas vezes para criar um efeito de surpresa suplementar (exemplo: a cena do bilhar em «The Family Jewels»).

 

Enfim, o cineasta Lewis revela um gosto acentuado pela proeza técnica, como testemunham entre outros, a última cena de «The Family Jewels», onde a câmara passa sem choque nem corte por todos os tios (todos incarnados por Lewis), o movimento de grua de «Ladies’ man», que descobre o conjunto do cenário, e a sequência do helicóptero de «The big mouth».

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