a dignidade da diferença
01 de Junho de 2013

 

 

«A televisão não é um meio de expressão. A prova é que, quanto mais idiota mais fascinante ela é, mais as pessoas ficam hipnotizadas nas cadeiras. A televisão é isso, mas espera-se que mude. A chatice é que, quando se começa a olhar para a televisão, não se consegue descolar. O melhor é não ver. Por isso não se deve considerá-la como um meio de expressão, mas como um meio de transmissão. Deve ser tomada como tal. Se já não resta senão esse meio para falar da arte às pessoas, não há outro remédio senão usá-lo. Porque, mesmo de filmes como Lola Montès ou Alexandre Nevsky fica qualquer coisa, na televisão, apesar da deformação dos enquadramentos, do ecrã redondo, do acinzentado da fotografia ou da ausência de côr. O espírito mantém-se. Com Lola Montès, o que se perdia em muitos planos recuperava-se no diálogo, a que, precisamente por isso, se acabava por prestar mais atenção. O filme conseguia aguentar-se unicamente pelo diálogo. Era assim que o seu espírito passava. Isso acontece com todos os filmes bons: basta que uma parte do filme subsista e essa parte chega para segurar o filme inteiro. Por isso a televisão, mesmo assim, transmite o espírito das coisas, isso é muito importante, para não falar das coisas em que não há nada a transmitir a não ser o espírito. O que é curioso é que Nevsky, que é todo ele assente no enquadramento e na composição, passava muito bem, apesar do massacre inevitável, ao passo que a transmissão do Perses, de Jean Prat, baseada – salvaguardas as devidas proporções – no mesmo princípio, não passava de todo em todo. Sentia-se que Nevsky era belo.»

Jean-Luc Godard, Edição da Cinemateca Portuguesa, 1985.

 

19 de Março de 2013

 

 

«Não há provas de que a violência nos filmes ou na televisão provoque violência social. Procurar atirar as responsabilidades todas para cima da arte como causa de vida parece-me uma maneira de fugir ao problema… ignorando as suas principais causas. A arte remodela a vida mas não a cria, não a produz. Além disso, atribuir grandes capacidades de sugestão ao cinema choca com a experiência cientificamente comprovada segundo a qual, mesmo após uma hipnose profunda, em estado pós-hipnótico, uma pessoa não pode ser levada a fazer coisas que choquem com a sua própria natureza. Portanto, não aceito essa conexão casual vida-cinema. Mesmo supondo que assim fosse, eu diria que o tipo de violência que um impulso imitativo pode causar é um tipo “engraçado”: a violência que vemos nos filmes de James Bond ou nos desenhos animados de Tom e Jerry. Violência irrealista, higienizada, apresentada de forma burlesca… mas estou convencido de que nem isto tem realmente um efeito. Aliás, quase, quase dou razão à ideia segundo a qual efetivamente todo o tipo de violência no cinema tem um fim social útil, permitindo que as pessoas descarreguem, em jeito de substituição, emoções e instintos agressivos escondidos, que se exprimem melhor nos sonhos ou no estado onírico quando se assiste a um filme, do que em qualquer forma de realidade ou de sublimação.»

06 de Outubro de 2011

 

 

Parece que os nossos governantes já terão decidido a privatização irreversível da RTP.  Será um dano incalculável a inexistência de um canal público de televisão. Devíamos estar a discutir a qualidade do serviço público que a televisão deveria prestar e não a sua existência. Como claramente referiu António Pedro Vasconcelos, comparado a situação à que se vive na Justiça «Não há nenhum português que não se queixe da justiça mas nenhum diz que prefere as milícias privadas». Depois de se saber aquilo que vão fazer com a Cinemateca Portuguesa - programação condicionada a critérios de bilheteira e passando pelo crivo do Secretário de Estado da Cultura -, iremos assistir ao prolongamento dos disparates culturais típicos da cegueira e da ignorância neo-liberal, cuja doutrina tem sido a bandeira deste Governo. Mas continuemos, a propósito, com APV, que é dos poucos que tem autoridade para falar do assunto, neste pequeno excerto da óptima entrevista que deu ao semanário Expresso: «Sabes que se diz que o cinema é a memória e a televisão é o esquecimento. Dizia o Fellini quando fez o “Ginger e Fred”. Ele sabia a televisão que vinha aí, uma torneira de deitar imagens. E o que ninguém diz é que a democracia faliu. Porque é que é um crime de lesa-pátria deixar de exigir a melhoria da televisão e rádio públicas? (…) Podes criticar muito a televisão pública mas é a única que não tem telenovelas. Que tem uma programação vertical, que tem um telejornal que impede os outros de serem uma vergonha. Como dizia o homem do Channel 4, a BBC obriga-nos a ser melhores. Onde é que aparecem todos os grandes humoristas portugueses? Na RTP. Estou longe de achar que o “Prós e Contras” é o melhor programa do mundo, mas é o único onde ainda podes discutir alguma coisa. É na RTP que podes ver documentários. Os portugueses vêem cinema três horas e meia por ano e vêem 3 horas e meia por dia de televisão. A bandalheira começou com o “Big Brother”, que deu origem aos noticiários de hora e meia. Noticiários sob forma de folhetim. Para que serve um telejornal numa privada? Não é para informar. Serve para fixar o espectador ao prime-time e para marcar a agenda política.»

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