Taraf de Haidouks: Honourable Brigands, Magic Horses and Evil Eye (1994)
Bem sei que os ciganos são, grosso modo, desconfiados, não gostam de mandar os filhos à escola nem de se misturar com outras gentes; são, em suma, gente de coabitação (muito) difícil. Mas essa circunstância não pode determinar este tempo que se vive; hoje em dia, qualquer cigano é comparado a um ladrão, a um trapaceiro ou a um contrabandista, e poucos são aqueles que não menosprezam a sua história de mil e quinhentos anos na Europa. Uma história feita de perseguições, resistência, intolerância e desconfiança mútua e transformada, muitas vezes, numa lição de vida.
Se são lembrados quase sempre por más razões, hoje merecem que os recorde por bons motivos. Um deles é a música, sobretudo este espantoso «Honourable Brigands, Magic Horses and Evil Eye», assinado, em 1994, pelos Taraf de Haidouks. Uma coexistência “pacífica” entre o velho e o novo, o savoir-faire transmitido de pais para filhos, o virtuosismo impressionante que prefere ser o eco da substância musical afastando-se, sabiamente, da mera demonstração de pirotecnia; todos estes elementos contribuem para consolidar estas sublimes fantasia e improvisação musicais – onde o violino assume o papel principal -, verdadeiro espelho de um inesquecível catálogo de danças e canções de casamento, de prisão, de camponeses, de lamentos ou romances, que sobreviveram a três gerações de músicos e hão-de perdurar também entre nós.