Coube à Soul Jam Records a louvável tarefa de reeditar uma série de obras clássicas do blues. Por sua vez, a recente aquisição de um conjunto de nomes incontornáveis da sua longa história – Lightnin’ Hopkins, Junior Wells, Sonny Boy Williamson e Muddy Waters, por exemplo – forneceu-me o pretexto para renovar uma ideia que já vem amadurecendo e me parece indiscutível: o modelo tradicional do blues, assente, por via de regra, numa estrutura de 12 compassos, esgotou a sua capacidade criativa. O que se ouve agora é um conjunto significativo de músicos, cuja única ambição consiste em adoptar uma carreira de guitar hero, substituir o pano de fundo musical - tradicionalmente aproveitado para sublinhar, reforçar ou ampliar histórias de uma vida que deixa marcas - por uma lista de solos intermináveis de guitarra, num exercício autocontemplativo e inútil de exibicionismo técnico sem qualquer interesse expressivo. Servirá de consolo, neste caso, recordar alguns dos clássicos para arejar os ouvidos e agradecer o inestimável contributo da Soul Jam Records para o efeito.