Chamada de atenção urgente para a reedição da obra de Né Ladeiras durante os anos em que gravou para a Valentim de Carvalho, inserida na colecção «No tempo do vinil». Ao disco deram o título «Essência, Os anos Valentim de Carvalho 1982-1983» e nele está incluído, além de «Sonho Azul», o espantoso maxi-single (na altura da sua edição em vinil) «Alhur».
Um disco absolutamente transcendente, mágico, habitado por uma voz de sonho acompanhada por uma música em permanente estado de levitação. A oportunidade, quase inacreditável, de podermos voltar a escutar Húmus verde, Holoteta, Essência e Alhur, as magníficas canções (?) cujo som não se aproxima, em nada, do que outros fizeram neste país. Nem antes nem depois da obra.
Uma viagem deslumbrante e com rumo incerto, cujos protagonistas tiveram como bússola, unicamente, um mapa musical até então desconhecido e posteriormente esquecido.
De um encontro casual entre Né Ladeiras, Miguel Esteves Cardoso e os músicos que, na época, formavam os Heróis do Mar, nasceu um portentoso manifesto estético e musical, fundador de uma música sem tempo e vinda de lugar nenhum, etérea, intíma e plasticamente transparente.
Um das raras vezes em que a música portuguesa fez abanar a terra. Ao pé deste assombro, «Sonho Azul», talvez um pouco injustamente, faz figura de obra menor.
Se depois desta vier a reedição de «Corsária», começo a acreditar que o mundo, afinal, não é tão mau como, teimosamente, parece.