A carreira musical de Kevin Ayers atingiu o seu primeiro ponto culminante na magnífica aventura sonora prog-psicadélica, com a cumplicidade dos seus compagnons de route (Robert Wyatt e Mike Ratledge, sobretudo) dos dois álbuns iniciais dos Soft Machine. Substituindo a costela progressiva por uma excentricidade razoavelmente esquizofrénica, Kevin Ayers acrescentou à sua paleta sonora, na viragem da década de 60 para a década de 70 do século XX (os formidáveis Joy Of A Toy, Shooting At The Moon, Whatevershebringswesing e Bananamour), idílicos e desorganizados experimentalismos de salão elaborados em imaginativos cenários surreais, cuja música tocante e assaz peculiar sai enriquecida com uma aparência deliciosamente fora de moda. A criatividade de Ayers escondeu-se, porém, excessivamente durante as décadas de oitenta e noventa, regressando, contudo, de forma surpreendente na gravação do último e magnífico The Unfairground (de 2007), recuperando as ainda intactas pequenas fragâncias reconhecidamente fora de época, balizadas por uma espessura musical intencionalmente fake e distribuída engenhosamente em doses equilibradas de divertimento, cavalheirismo, angústia, sonho e melodias de salão nobre. Soubemos na última segunda-feira que não escutaremos mais a sua voz.