a dignidade da diferença
20 de Maio de 2017

 

a ideia de socialismo.jpg

 

Hoje, a situação mudou radicalmente. O socialismo, quando é, sequer, mencionado no contexto das teorias sociais, parece indiscutivelmente algo do passado, não se acredita que ele possa voltar alguma vez a despertar o entusiasmo das massas, nem se considera que seja adequado para apresentar alternativas inovadoras ao capitalismo actual. De um dia para outro – Max Weber esfregaria os olhos, admirado – os papéis dos dois grandes adversários do século XIX inverteram-se: o futuro parece pertencer à religião, enquanto força ética, enquanto o socialismo, pelo contrário, é visto como uma criação intelectual do passado. A convicção de que esta inversão aconteceu demasiado depressa, não podendo, portanto, constituir toda a verdade, é um dos dois motivos que me levaram a escrever este livro: quero tentar provar (…) que ainda existe uma faísca viva no socialismo, se houver determinação suficiente para libertar a sua ideia fundamental de uma estrutura de pensamento enraizada na primeira fase da industrialização, e se esta ideia for transplantada para uma teoria social, num novo enquadramento.

Alex Honneth, Die Idee des Sozialismus (A Ideia de Socialismo)

publicado por adignidadedadiferenca às 02:13 link do post
16 de Agosto de 2011

 

 

A par da ortodoxia estética do socialismo dos países da Europa de leste, naturalmente integrada numa corrente ideológica assente numa construção simplista e esquemática, muitas outras opções estéticas, mais complexas e desalinhadas com o espírito da época, surgiram durante as décadas de 70, de 80 e de 90 do século passado. É o que se alcança após a leitura do magnífico CCCP Cosmic Communist Constructions Photographed, da autoria do fotógrafo Frédéric Chaubin (com edição da Taschen também em português), que retrata a arquitectura das repúblicas da antiga União Soviética. Assim, algo inesperadamente, objectos singulares e ousados, verdadeiro paradigma do modernismo, convivem com o imobilismo geral, construções diversificadas na forma e na utilização do espaço, enriquecidas por ínfimos detalhes, desafiavam escalas e recusavam esgotar-se naquele meio tão envelhecido e planificado.

 

 

 

  

Por outro lado, já o disco Between or Beyond the Iron Curtain, Rare Grooves from Eastern Europe 1967-1978, veio demonstrar, em 2001, que a música desses países não tinha necessariamente que obedecer aos parâmetros estético-políticos da ideologia dominante. O que por lá se fazia, como podemos constatar ao escutar Wojciech Karolak, Gustav Brom, Adam Makowicz, Novi Singers ou Jazz Celula, entre outros, era francamente inspirador. Desafios constantes às regras estabelecidas, desenhos melódicos e harmónicos obsessivos, dissonantes e atonais, explosões rítmicas esdrúxulas ou construções esculturais do mais fino recorte estético, habitavam o universo musical do leste europeu. Um objecto estético de referência, rico e moderno, com capacidade para não deixar ninguém envergonhado no confronto artístico com o mundo ocidental.

 

 

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