How to Lie with Statistics, escrito por Darrell Huff - publicado recentemente no nosso país pela Gradiva, integrado na coleção Ciência Aberta, intitulado Como Mentir Com a Estatística e traduzido por Rui Filipe Graça, ficando, por sua vez, a revisão científica a cargo de Carlos Fiolhais -, tornou-se um hiperclássico com mais de meio século de existência. Concebido essencialmente com o objetivo de preparar as pessoas contra quem as procura enganar através do (ab)uso da estatística – cujas médias, correlações, tendências e gráficos, como refere Huff, nem sempre são aquilo que parecem -, e construído numa linguagem bastante acessível, simples e clara, sem esquecer contudo o necessário rigor científico, este livro tem ainda hoje a capacidade para ensinar e divertir os seus leitores, explicando como se deve encarar e enfrentar uma estatística falsa (certificando-se, por exemplo, se esta faz algum sentido). Retirados da sua pequena introdução à obra, ficam aqui referidos alguns dos propósitos iniciais do seu autor:
«A linguagem secreta da estatística, tão atraente no quadro de uma cultura baseada em factos, é usada para causar sensacionalismo, para amplificar, para confundir e para simplificar o mais possível. Os métodos e termos estatísticos são necessários para comunicar um grande volume de dados sobre tendências socioeconómicas, condições de mercados, pesquisas de opinião e recenseamentos. Todavia, sem autores que usem as palavras com honestidade e sentido e sem leitores que saibam o que elas querem dizer, o resultado só poderá ser um completo disparate semântico. Na escrita popular sobre assuntos científicos, os abusos estatísticos quase nunca aparecem associados ao lugar-comum do herói de bata branca que trabalha horas a fio num laboratório mal iluminado, sem direito a pagamento de horas extraordinárias. Como se fossem uns pozinhos de perlimpimpim, as estatísticas fazem muitos factos importantes parecerem aquilo que, de facto, não são. Uma estatística bem embrulhada é melhor do que a “grande mentira” da propaganda hitleriana – engana, mas não revela a origem do engano. Este livro é uma espécie de introdução às várias formas de usar a estatística para enganar alguém. Pode parecer um manual para vigaristas. Talvez eu possa justificá-lo com a imagem do ladrão aposentado cujo livro de memórias equivale a uma licenciatura em arrombar fechaduras e andar com pezinhos de lã: os bandidos já conhecem esses truques, mas as pessoas honestas devem aprendê-los para sua própria defesa.»