a dignidade da diferença
22 de Fevereiro de 2013

 

 

A carreira musical de Kevin Ayers atingiu o seu primeiro ponto culminante na magnífica aventura sonora prog-psicadélica, com a cumplicidade dos seus compagnons de route (Robert Wyatt e Mike Ratledge, sobretudo) dos dois álbuns iniciais dos Soft Machine. Substituindo a costela progressiva por uma excentricidade razoavelmente esquizofrénica, Kevin Ayers acrescentou à sua paleta sonora, na viragem da década de 60 para a década de 70 do século XX (os formidáveis Joy Of A Toy, Shooting At The Moon, Whatevershebringswesing e Bananamour), idílicos e desorganizados experimentalismos de salão elaborados em imaginativos cenários surreais, cuja música tocante e assaz peculiar sai enriquecida com uma aparência deliciosamente fora de moda. A criatividade de Ayers escondeu-se, porém, excessivamente durante as décadas de oitenta e noventa, regressando, contudo, de forma surpreendente na gravação do último e magnífico The Unfairground (de 2007), recuperando as ainda intactas pequenas fragâncias reconhecidamente fora de época, balizadas por uma espessura musical intencionalmente fake e distribuída engenhosamente em doses equilibradas de divertimento, cavalheirismo, angústia, sonho e melodias de salão nobre. Soubemos na última segunda-feira que não escutaremos mais a sua voz.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:25 link do post
29 de Janeiro de 2012

 

As Unthanks apossaram-se literalmente do reportório musical de Robert Wyatt e de Antony & The Johnsons (magnífico e peça central na história da música popular contemporânea o do primeiro, francamente sobrevalorizado e xaroposo o do segundo), dispensando eventuais adornos excessivos e lapidando-o até este atingir a sua forma mais pura e transparente, isto é, apenas vozes e o acompanhamento instrumental rigorosamente indispensável. As irmãs Rachel e Becky oferecem-nos assim uma jóia rara e preciosa, bela, frágil e delicada como o cristal. E, já agora, aproveitando a publicidade que vi a um filme recente (creio que ocorreu no passado dia 24 de Janeiro), apetece-me dizer algo como isto: melhor disco do ano até ao momento...

 

publicado por adignidadedadiferenca às 18:43 link do post
19 de Abril de 2009

 

Robert Wyatt - Rock Bottom (1974)

 

 

 

 

Robert Wyatt, baterista e um dos fundadores dos Soft Machine – uma das raríssimas bandas de rock progressivo que, ainda hoje, merecem ser escutadas -, criou, depois de ter abandonado a banda logo que terminaram a gravação do seu quarto volume e após um terrível acidente ocorrido numa festa que foi provocado por uma queda do quarto andar – deixando-o com paralisia dos membros inferiores -, um dos mais impressionantes, dolorosos, irónicos e iluminados discos de toda a história da música popular.

Rock Bottom começa com Sea Song, uma canção metafísica em estado de graça que penetra na mágoa mais profunda. Ouvem-se dispersas notas de piano levadas pelo vento em desalinho com micro-percussões fantasmas e estruturadas em melodias à deriva alimentadas, simultaneamente, por uma angústia e luminosidade profundas. Last Straw e  Little Red Riding Hood Hit the Road ampliam o estado de letargia inicial conduzido por um sopro radiante e interior que devolve, literalmente, estas canções submersas à luz do dia.

Alifib e Alifie formam uma das mais arrepiantes e alucinantes sequências musicais que tivemos oportunidade de ouvir. Música e voz erguem-se dos escombros e articulam-se numa geometria de loucura, onde nada resta senão uma respiração negra e abissal que dissolve toda a atmosfera em redor num murmúrio dilacerante à beira do abismo.

E este monumento sonoro termina com Little Red Robin Hood Hit the Road, canção de redenção onde a voz cava e profunda de Ivon Cutler paira sobre uma concertina demente e acaba com uma insuportável angústia num riso alucinado e cruel.

Pouco mais fica por dizer desta obra genial que, num momento supremo e irrepetível, junta - em simultâneo ou separadamente – pedaços de jazz e blocos de gelo numa harmonia impossível com parcos esboços sinfónicos afundados numa cortante brisa de música de câmara.

Uma gravação genial que, ainda hoje, soa a pop futurista e de vanguarda. Resta acrescentar que o seu autor continua, de forma insistente e inventiva, a seguir um caminho único e personalizado na história da música contemporânea oferecendo-nos obras marcantes como Ruth is Stranger Than Richard, Shleep, Cuckooland ou o último e magnífico Comicopera.

 

 

 Little Red Riding Hood Hit the Road

publicado por adignidadedadiferenca às 20:35 link do post
19 de Dezembro de 2008

E para quem não se deixar atrasar e tiver a sorte de ainda o encontrar, como aconteceu comigo quando me desloquei à FNAC durante esta semana, faça o favor de comprar isto:

 

O paradigma perfeito da música popular no que ela contém de mais tradicional. Vozes prodigiosas e expressivas de mãos dadas com um sentido estético admirável capazes de, com o apoio instrumental reduzido ao rigorosamente indispensável – quase sempre, não mais do que um piano e um violino -, transformar o mais pequeno pormenor em riqueza sonora, são matéria musical mais do que suficiente para abalar os sentidos de qualquer ouvinte suficientemente atento.

Sandy Denny, June Tabor, Richard & Linda Thompson reunidos num disco só e uma versão absolutamente arrepiante do genial «Sea Song» de Robert Wyatt, fazem desta gravação a prenda ideal para oferecer este ano a quem faz da música a sua máxima paixão.

Uma obra-prima de 2007, que só tive o prazer de escutar há muito poucos dias.

 

My Donald

 

Sea Song

 

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