Já assistimos, no lado do PSD, à mudança de opinião do Secretário de Estado Carlos Moedas sobre a reestruturação da dívida pública – convictamente a favor quando não fazia parte deste Governo, actualmente contra. Inverteram-se agora os papéis, com o declarado apoio de José Sócrates ao manifesto do Grupo dos 70. É que em 2011, como já todos sabem, num debate com Francisco Louçã, Sócrates respondeu-lhe afirmando que a mensagem enviada aos credores (reestruturação da dívida pública) «seria a de um calote, que colocaria o país e as suas empresas numa lista negra. Isso seria pagar com miséria, desemprego e falências». Percebemos, a cada dia que passa, que se diz uma coisa na oposição e o seu contrário no governo, sem qualquer ponta de vergonha. É verdade que já Fernando Pessoa, nas suas Ideias Políticas, dizia que «Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural. A coerência, a convicção, a certeza são demonstrações evidentes de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade». Mas, caramba! Mudar tanto e assim tão de repente? Eis José Sócrates, um troca-tintas (no meio de tantos), exemplo notável da actual política à portuguesa.