Após a edição portuguesa dos notáveis Fome e Pan, de cuja relevância literária já aqui falámos, a obra de Knut Hamsun - Victoria, no caso presente - teve direito a mais uma publicação nacional cuja responsabilidade esteve mais uma vez a cargo da editora Cavalo de Ferro. As preocupações narrativas do genial escritor norueguês estão, neste livro, bem distantes do universo angustiante, alucinado, solitário e de obsessiva vagabundagem atravessado pelo protagonista de Fome, mas, em contrapartida, apesar de nem sempre serem convergentes as coordenadas estéticas, aproximam-se onsideravelmente do denso retrato psicológico das personagens de Victoria e das suas trágicas paixões. Knut Hamsun, numa linguagem que nos desarma pela simplicidade assumida configurando imagens de grande beleza narrativa, aprofunda, numa história banal e de contornos facilmente reconhecíveis, a tragédia e a obsessão do amor impossível que consome Johannes e Victoria, transformando milagrosamente um aparentemente banal conto de fadas numa divagação assombrosa por retratos subjectivos de grande rigor e intensidade psicológica numa relação fremente com a natureza que os envolve. Uma obra admirável que fará em absoluto parte do balanço final de 2011.