Para quem se recorda das screwball comedies de Hawks, Sturges, Capra ou Cukor na época de oiro do cinema clássico americano, do seu ritmo extravagante e da velocidade alucinante dos seus diálogos, o estilo do mais recente filme de Peter Bogdanovich (Ela é Mesmo... o Máximo, no título em português) não será propriamente uma novidade, pois nele sobressai um número significativo de referências ao cinema clássico americano. Após uma longuíssima ausência – a sua obra anterior, The Cat's Meow, data já de 2001 – Peter Bogdanovich regressa com uma comédia elegante e deliciosamente libertina, dinâmica, engenhosa, subtil e inteligente, capaz de ombrear com as mais sofisticadas e saudosas comédias de Woody Allen. O filme do cineasta norte-americano é um pequeno tratado sobre encontros e desencontros nas relações humanas, uma divertida coreografia em torno de pessoas que se descobrem frequentemente em circunstâncias equívocas. Classicista até à medula – é bem conhecida a sua veneração pelas velhas glórias de Hollywood, os primitivos Dwan, Lubitsch, Cukor, Hawks, Hitchcock, Ford ou Walsh -, o humor de Bogdanovich não traz nada de novo ao cinema em geral e à comédia em particular; porém, o seu particular talento de coreógrafo permite-lhe desenvolver as mais diversas possibilidades de encenação de uma comédia – a composição dos planos, as figuras, os encadeamentos expressivos – actualizando uma simples história de uma call girl que pretende ser atriz, que gira em torno de uma prostituta, do amante, da sua mulher e do amante desta, sugerindo algo mais significativo do que um mero exercício retro de pura nostalgia.