Não sei bem se a ideia generalizada é essa, mas fiquei com a impressão de que os defensores do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foram maioritariamente associados à esquerda portuguesa. Ou, pelo menos, alguns dos seus fundamentos. Porém, não terá sido bem assim. Se recuarmos à sua origem, descobrimos, com a preciosa ajuda do notável, delicioso e esclarecedor Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico, da autoria do jornalista (e bloguista) Pedro Correia, onde nasceu a vontade de rapidamente negociar e assinar o acordo. As palavras são de Pedro Santana Lopes, secretário de Estado da Cultura do governo de Aníbal Cavaco Silva na altura em que se começou a formular a ideia de um acordo unificador da língua portuguesa. Passo a citar as suas declarações ao semanário Sol de 13 de Fevereiro de 2012 (transcritas no referido livro de Pedro Correia): «Cavaco Silva foi peremptório: em seu entender, o Acordo Ortográfico era essencial para que, no século XXI, o português falado em Portugal não ficasse com um estatuto equivalente ao do latim. Cavaco Silva fez-me notar que, nos leitorados das universidades um pouco por todo o mundo, nas traduções em organizações internacionais e em várias outras instâncias, era cada vez mais utilizado o português conforme escrito e falado no Brasil. Por isso se trabalhou muito, por isso pensei muito no que então o primeiro-ministro me tinha dito. E não tenho dúvidas de que tinha toda a razão». Que o agora Presidente da República venha admitir que «em casa continua a escrever como aprendeu na escola» define bem o seu perfil e a sua qualidade política.