a dignidade da diferença
29 de Outubro de 2015

 

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Talvez o leitor nunca tenha ouvido falar. Pouco conhecido no ocidente, Mikio Naruse (1905-1969) foi um dos mais férteis e importantes cineastas japoneses do século vinte, assinando um número considerável de filmes (aproximadamente noventa obras). Na realidade, tal como sucedeu com Yasujiro Ozu, o cinema de Naruse acompanhou as transformações da sociedade japonesa do pós-guerra, nas quais a mulher teve um papel fundamental - Naruse, tal como outro mestre japonês, o enorme Kenji Mizoguchi, é um dos grandes cineastas de mulheres. Com efeito, a importância do cineasta japonês mede-se pela invejável mestria com que retratou o conflito entre tradição e modernidade, pelo modo como as suas obras ilustram o clima de tensão que se vivia quase diariamente nas cidades, no seio de cada família. Mikio Naruse trabalhou essa transição cultural no plano do conflito de valores entre gerações e, no centro dos pequenos e íntimos dramas familiares, interessou-se pelos problemas entre homens e mulheres, pelas crises conjugais. A sua visão era acentuadamente sombria e melancólica.

 

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Nos seus filmes as personagens aceitam as coisas tal como elas são, inevitáveis. Os dias, tristes, vão passando lentamente. Contudo, os monólogos desapaixonados desse conjunto de personagens são incapazes, paradoxalmente, de ocultar os pequenos sobressaltos que inquietam o seu (e o nosso) interior. E se já realcei a importância do cinema de Naruse, falta identificar-lhe o estilo. Os alicerces do edifício estético do autor japonês - os contidos movimentos de câmara, os diálogos e cenários minimais, os desempenhos rigorosos – operam numa lógica de contenção realista e encaixam naturalmente na quase imobilidade de um ritmo austero e elementar, no qual prevalece, como acertadamente referiu Pedro Mexia, uma sucessão de acontecimentos microscópicos que, embora não desenvolvam a narrativa, anunciam, numa configuração palpável e vibrante, estados de espírito. Como acontece nos melhores exemplos, já não se trata propriamente de figuras de estilos, mas de um modo genérico de expressão. Um cinema onde predominam seres humanos comuns e imperfeitos, e que representa uma imagem sólida e individualizada do papel fundamental da mulher num mundo em transfiguração.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 21:06 link do post
29 de Dezembro de 2013

Mantém-se o critério que orientou a elaboração da lista dos meus livros preferidos de 2013: doze filmes (sendo do mesmo cineasta e tratando-se de obras que se complementam, o díptico de Ozu conta como um), correspondendo a um filme por cada mês de calendário. Contudo, dada a relativa escassez de obras que merecem ser efectivamente realçadas, volto a conjugar na minha lista filmes estreados nas salas de cinema com filmes editados no mercado de DVD, sem me preocupar com géneros ou hierarquias. Não quero, porém, deixar de referir a edição em DVD da monumental da Tetralogia do Poder, do russo Aleksandr Sokurov, assim como a notável edição a cargo da Midas Filmes da magnífica, raríssima e injustamente ignorada obra de Victor Erice. Quanto aos filmes estreados nas salas de cinema, é de louvar a resistência das pequenas distribuidoras independentes, direcionadas para uma minoria cinéfila, culta e interessada. E ainda, acima de todas, as obras do genial Ozu, realizadas em 1953 e 1962, e finalmente estradas comercialmente em Portugal, Viagem a Tóquio e O Gosto do Saké.

 

 Paul Thomas Anderson, O Mentor

 

Terence Davies, O Profundo Mar Azul 

 

 Victor Erice, Obra Completa (DVD)

 

Matteo Garrone, Reality

 

James Gray, Coleção de 3 Filmes (DVD)

 

Pablo Larraín, Não

 

Yasujiro Ozu, Viagem a Tóquio

 

Yasujiro Ozu, O Gosto do Saké

 

 Christian Petzold, Barbara

 

Hong Sang-soo, Noutro País

 

Aleksandr Sokurov, Tetralogia do Poder (DVD)

  

Quentin Tarantino, Django Libertado

 

Margarethe Von Trotta, Hannah Arendt

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