Sequência natural do anterior e igualmente meritório «Os Privilegiados», do jornalista Gustavo Sampaio, «Os Facilitadores», publicado no mês passado, prossegue o magnífico trabalho de investigação daquele. Se «Os Privilegiados» já nos oferecia uma notável visão panorâmica da promiscuidade entre o mundo da política e as actividades económico-financeiras, e entre as funções públicas e os interesses privados, na qual sobressai o tráfico de influências ou a rede de interesses convergentes entre a classe política, as empresas públicas e os negócios privados, o mais recente trabalho de Gustavo Sampaio investiga o sistema de correspondência entre o poder político, as sociedades de advogados e os interesses empresariais. O jornalista em regime «freelancer» mantém o seu «modus operandi»: sistematiza e revela as listas de clientes das maiores sociedades de advogados, a sua participação na produção legislativa ou na regulação, e a conexão político-empresarial – desde o recrutamento de políticos até à acumulação de cargos de administração nas grandes empresas. Colocando sucessivamente a questão sobre a causalidade ou a intenção nesta abundância de «padrões, coincidências e interligações», Gustavo Sampaio evita as ideias pré-concebidas e os juízos de valor, tratando o leitor com o respeito que este merece, permitindo-lhe tirar as suas próprias conclusões. Uma obra notável que evidencia a marca indelével de um sistema viciado e a sua viscosa realidade, onde as principais sociedades de advogados tanto representam o interesse público como o sector privado. Em ocasiões distintas ou em simultâneo, entre pontenciais e previsíveis conflitos de interesses.