«As aparências iludem. No entanto, possuímos um amplo conhecimento da vasta e desconhecida realidade que as causa e das elegantes leis universais que regem essa realidade. Esse conhecimento assenta em explicações: afirmações sobre o que existe para além das aparências, e sobre como se comporta. Não fomos muito bem sucedidos na criação deste tipo de conhecimento na maior parte da história da nossa espécie. De onde vem? O empirismo dizia que o extraíamos da experiência sensorial. Isto é falso. A verdadeira fonte das nossas teorias é a especulação, e a verdadeira fonte do nosso conhecimento é a especulação alternada com a crítica. Criamos teorias reorganizando, aliando, alterando e acrescentando ideias às já existentes com a intenção de as melhorar. O papel da experimentação e da observação é escolher entre as teorias existentes, e não originar outras novas. Interpretamos as experiências através de teorias explicativas, mas as verdadeiras explicações não são óbvias. O falibilismo implica não ter em conta a autoridade mas, em vez disso, reconhecer que podemos estar sempre errados, e tentar corrigir os nossos erros. Fazemo-lo quando procuramos boas explicações – explicações de que é difícil criar variantes no sentido em que alterar os pormenores arruinaria a explicação. Este, e não o ensaio experimental, constitui factor decisivo na revolução científica, bem como no progresso sustentado, rápido e único noutras áreas do iluminismo. Foi uma revolta contra a autoridade que, ao contrário de outras semelhantes, não tentou alicerçar-se em justificações para as teorias do poder, mas antes estabelecer uma tradição de crítica. Algumas das ideias daí resultantes têm um enorme alcance: explicam mais que o originalmente proposto. O alcance de uma explicação é um atributo intrínseco dessa explicação, não uma suposição que fazemos sobre ela, como defendiam o empirismo e o indutivismo.»
David Deutsch, The Beginning of Infinity – Explanations that Transform the World