A sagração da Primavera (Le sacre du printemps) - Igor Stravinsky/Pierre Boulez/The Cleveland Orchestra (1992)
Fazendo parte das principais composições da fase inicial da obra do compositor russo Igor Stravinsky – os três bailados encomendados por Diaghilev -, este retrato vivo dos sacrifícios rituais da Rússia pagã introduziu um nível de dissonância e ousadia rítmica que provocou tumultos entre o público que assistiu à sua estreia em Paris, corria o ano de 1913, e marcou toda a história posterior da música do século XX, tornando-se um dos marcos incontornáveis da música de vanguarda.
Se o ritmo, nas suas mais admiráveis formas, constitui o centro da sua obra, é na Sagração da Primavera que atinge a sua pele mais elaborada. É verdade que já foi considerada como o cúmulo do primitivismo (como se isso fosse mau) – Cocteau, por exemplo, chamou-lhe Pastoral do mundo pré-histórico -, mas a obra viria a impor-se pela sofisticação rítmica, pela combinação ambígua de acordes, pelos extraordinários e devastadores efeitos orquestrais e pela imparável força telúrica e dramática de todos estes elementos.
Acrescente-se, ainda, a contribuição dos Ballets Russos de Diaghilev, de Nijinski, Picasso, Bakst, Fokine e outros talentos extraordinários para a sua importância fulcral numa época de oiro, visionária e profundamente revolucionária.
A escolha da leitura de Pierre Boulez, deve-se ao seu apurado sentido auditivo que lhe permite destacar imensos pormenores que muito raramente foram ouvidos anteriormente. Não se devendo menosprezar, igualmente, o facto de ser um intransigente modernista e esplêndido divulgador da arte musical do século XX.
Le sacre du printemps, parte 1 e 2