Biophilia é a mais recente utopia musical da genial islandesa. Björk, mais do que em qualquer outro disco, colocou a tecnologia ao serviço da substância musical. Segundo uma perspectiva wagneriana, será a obra de arte total da era digital. Trata-se, numa primeira leitura, de uma peça sideral, galáctica, interactiva e visual (agora numa versão tridimensional), basicamente idealizada num surpreendente jogo de espelhos cósmicos. Na medida em que questiona frequentemente novas formas de comunicação através de uma instrumentação quase sobrenatural, e expõe uma matéria musical heterodoxa e magnificamente científica, Biophilia será como certeiramente o definiu, no Expresso desta semana, o crítico João Lisboa: uma obra admirável que precisa, porém, de ser repetidamente escutada até se tornar amada. O que tem sido, convenhamos, usual no seu percurso musical mais recente, sobretudo a partir do excessivamente híbrido Vespertine (até hoje, na nossa opinião, o seu único passo musical em falso).