Realizado pelo russo Aleksandr Sokurov, em 1999, Moloch traça o quotidiano e a vida interior de Hitler e Eva Braun, um delírio ficcional que explora com profundidade a tensão psicológica que implode e mina um fim-de-semana em que o casal recebe um grupo de convidados na casa de campo do Führer. Dois anos depois, Taurus aborda os últimos momentos de vida de um Lenine moribundo, o modo como enfrenta a morte que se aproxima. É um retrato denso sobre a sua solidão, impotência, desintegração e perda de consciência. O imperador Hirohito é o terceiro ditador escolhido por Sokurov. O Sol, trabalhado na sua máxima depuração e complexidade, concluído em 2005, avalia o comportamento do imperador nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, quando decide pôr fim à resistência japonesa e acabar com as hostilidades.
Por último, Fausto, vencedor do Festival de Veneza de 2011 e o único dos quatro filmes do autor russo a passar pelo circuito comercial do nosso país, baseia-se na primeira parte da tragédia de Goethe (embora não se trate de uma adaptação linear): em troca da promessa de dinheiro e da mulher que deseja, Fausto deixa-se manipular por um indescritível Mefistófeles. Sokurov concebe um prodigioso universo de imagens criando no espectador a mais pura estupefação perante a alquimia de um espaço onde abandona a sua personagem à fatalidade. Fausto, vertiginoso e fascinante, um misto de beleza e horror, completa a obra do cineasta russo estruturada sob a figura destrutiva do poder, na qual o seu autor idealiza actualmente a mais consistente relação do cinema com a pintura, com um notável trabalho pictórico ao serviço da narrativa que faz da sua filmografia um objeto único e irrepetível. A Leopardo Filmes, numa feliz iniciativa, acabou de lançar esta tetralogia do poder no mercado videográfico.
Faust