a dignidade da diferença
09 de Fevereiro de 2014

  

Modigliani, Nu Adormecido com os Braços Abertos (Nu Vermelho), 1917

 

«Os nus não-académicos de Modigliani constituem um caso de algum modo distinto. Embora também possamos empregar as palavras luxúria, calma e sensualidade para os descrever, em termos formais, os nus de Modigliani estão muito mais estreitamente associados às tradições da história de arte do que os dos seus contemporâneos franceses e alemães. Quando mais não fosse pela sua técnica, mas também pela composição, os seus nus denunciam uma clara influência dos mestres do Renascimento italiano, de Sandro Botticelli, Ticiano e Giorgione. Modigliani remete, assim, para um capítulo pré-académico da história da arte, para uma época em que uma Vénus nua ou Danae, para nomearmos apenas os modelos mais célebres, não era representada segundo um catálogo de poses impostas. Em vez disso, a sua composição ficava a dever-se essencialmente à iconografia de uma história subjacente e à inventividade do artista que as retratava.»

Doris Krystof, Amedeo Modigliani

 

Giorgione, Vénus Adormecida, c. 1508
Ticiano, Vénus de Urbino, c. 1538
16 de Agosto de 2011

 

 

A par da ortodoxia estética do socialismo dos países da Europa de leste, naturalmente integrada numa corrente ideológica assente numa construção simplista e esquemática, muitas outras opções estéticas, mais complexas e desalinhadas com o espírito da época, surgiram durante as décadas de 70, de 80 e de 90 do século passado. É o que se alcança após a leitura do magnífico CCCP Cosmic Communist Constructions Photographed, da autoria do fotógrafo Frédéric Chaubin (com edição da Taschen também em português), que retrata a arquitectura das repúblicas da antiga União Soviética. Assim, algo inesperadamente, objectos singulares e ousados, verdadeiro paradigma do modernismo, convivem com o imobilismo geral, construções diversificadas na forma e na utilização do espaço, enriquecidas por ínfimos detalhes, desafiavam escalas e recusavam esgotar-se naquele meio tão envelhecido e planificado.

 

 

 

  

Por outro lado, já o disco Between or Beyond the Iron Curtain, Rare Grooves from Eastern Europe 1967-1978, veio demonstrar, em 2001, que a música desses países não tinha necessariamente que obedecer aos parâmetros estético-políticos da ideologia dominante. O que por lá se fazia, como podemos constatar ao escutar Wojciech Karolak, Gustav Brom, Adam Makowicz, Novi Singers ou Jazz Celula, entre outros, era francamente inspirador. Desafios constantes às regras estabelecidas, desenhos melódicos e harmónicos obsessivos, dissonantes e atonais, explosões rítmicas esdrúxulas ou construções esculturais do mais fino recorte estético, habitavam o universo musical do leste europeu. Um objecto estético de referência, rico e moderno, com capacidade para não deixar ninguém envergonhado no confronto artístico com o mundo ocidental.

 

 

29 de Junho de 2011

A famosa Residência Tischler, Greenfield Avenue, Westwood (1949-1950) é um dos mais admiráveis exemplos do talento «escultural» de Schindler, das suas assombrosas formas arquitectónicas de exploração do espaço - uma espécie de fuga à mecanização racional -, configurando a síntese perfeita da evolução que foi sofrendo o seu vocabulário único, novo, funcional, verdadeiro paradigma do modernismo. Uma obra-prima, como, a propósito e com uma clareza notável, explica James Steele:

 

 

«A Residência Tischler apresenta uma fachada inescrutável para a estrada, um telhado de empena de madeira dividido ao meio por uma fina clarabóia vertical. Tudo isto assenta numa base de estuque com uma forma de T invertido com portas para a garagem ao nível da estrada, sob o que parece ser, visto da Greenfield Avenue, uma unidade compacta de três andares, mas que de facto é apenas o princípio de um plano horizontal alongado que roda a 180º do seu centro para se relacionar com a vista do jardim. O telhado de empena uma vez mais parece flutuar acima das paredes, especialmente porque Schindler utilizou painéis de fibra de vidro azuis translúcidos para permitir que a luz seja filtrada pelos caibros numa das mais expressionistas exibições perto do final da sua carreira.» (Tradução de Constança Santana)

publicado por adignidadedadiferenca às 00:11 link do post
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