American Music Club: Mercury (1993)
Existe uma categoria de música que, na maioria das situações, nos deixa num estado de semi-abandono que quase nos impede de a explicar. Nada mais nos resta que gostar. Muito. É o que acontece, por exemplo, com este Mercury, disco seminal dos magníficos American Music Club, de Mark Eitzel. Já tem uns anitos (17) mas continua a ouvir-se hoje com o mesmo prazer de ontem. Difícil e angustiante, Mercury reduz qualquer esperança a cinzas. Não o recomendo às pessoas em geral, mas aos poucos com força de espírito suficiente para o acolher e merecer. É uma obra vencida pela amargura e pela desolação, que magoa e entristece, provoca o medo, comove, mas robustece. Musicalmente, impressiona pela precisão e concisão rítmica, acuidade melódica, riqueza de ideias, detalhe sonoro e magnífica clarividência arquitectónica. Apesar do notável esforço de clarificação estética, traz consigo tudo aquilo que ninguém precisa. Mas vale a aposta em como os poucos que o escutaram não conseguem viver sem ele. Da mesma estirpe dos Mazzy Star, Silver Jews e Richmond Fontaine deste mundo, i.e., daquele raríssimo género de música que não apetece partilhar com ninguém.