Cada cabeça, sua sentença. Dos álbuns gravados por David Bowie ao longo da sua carreira, cada um escolherá os seus preferidos. Ziggy Stardust & The Spider From Mars, de 1972, será o mais popular e (sobre) valorizado. Os mais atentos poderão reparar como a substância musical não acompanhava a ousadia da imagem e poderia até ser considerada como bastante conservadora, sobretudo quando comparada com a obra inicial dos extraordinários Roxy Music. Se decorridos tantos anos, pouco mais sobressai em Ziggy Stardust que um convencional e sólido conjunto de canções de feição rock, encontro com o futuro Bowie só o teria verdadeiramente a partir de 1977, durante a estratosférica trilogia berlinense (Low, Heroes e Lodger), experimentando novas formas e novos sons, redefenindo as coordenadas de uma fatia considerável da música popular que se faria daí em diante. No entanto, concluída uma série de gravações arriscadas, algo excessivas e desequilibradas - não obstante esse louvável princípio de permanente mudança -, onde talvez tenha pecado por uma digestão apressada de vários géneros (uma escuta recente de Alladin Sane, por exemplo, revelou-se algo decepcionante), gravou, um ano antes, um austero, belíssimo e singular disco, Station to Station, espécie de ponte electrónica apontada para a fase mais criativa da sua carreira. Após uma pouco memorável passagem pelos anos oitenta, Bowie gravaria ainda, em 1995, um estranhíssimo, fascinante e magnífico Outside, que considero provavelmente o seu derradeiro trabalho a merecer entrada significativa no cânone. Trata-se, porém, de uma questão de gosto individual. Com efeito, Bowie construiu uma icónica imagem de camaleão da pop e essa representação dificilmente a conseguirão apagar da nossa memória…
Station to Station (1976)
Low (1977)
Heroes (1977)
Lodger (1979)
Outside (1995)