«O que eu também defendo é que existe uma diferença entre o conhecimento de outros povos e de outros tempos que é produto do entendimento, da compaixão, do estudo cuidadoso e da análise séria, e, por outro lado, o conhecimento (…) que faz parte de uma abrangente campanha de auto-afirmação, beligerância e guerra directa. Existe, afinal de contas, uma profunda diferença entre a vontade compreender por razões de co-existência e de alargamento de horizontes humanísticos, e a vontade de dominar por razões de controlo e domínio externo. É com certeza uma das catástrofes intelectuais da história que uma guerra imperialista, confeccionada por um pequeno grupo de oficiais norte-americanos não-eleitos (…) tenha sido lançada contra uma ditadura do Terceiro Mundo (já devastada) por razões unicamente ideológicas, que se prendem com o domínio do mundo, o controlo da segurança e a escassez de reservas, mas cujas verdadeiras intenções foram mascaradas, apressadas e justificadas por orientalistas que traíram a sua vocação de eruditos.»
Edward W. Said, Orientalismo
Segundo o autor, o Orientalismo consiste genericamente num estilo de pensamento que distingue Ocidente e Oriente – diferença ontológica e epistemológica – como ponto de partida para produzir teorias políticas e sociais, romances ou epopeias a respeito do oriente, da sua gente, cultura, dos seus costumes, desígnios e mentalidade. Essa distinção foi aceite por uma assinalável quantidade de académicos, romancistas, filósofos, poetas, políticos, economistas ou administradores imperiais. Material e historicamente, para Edward Said, o Orientalismo pode significar ainda um estilo ocidental desenvolvido para dominar, reestruturar e exercer influência sobre o Oriente.