Após o inesperado golpe de rins estético, iniciado com o sereno e quase invisível White Chalk, em 2007, PJ Harvey abandona definitivamente a pele que vestiu durante a intensa, descarnada e eléctrica cavalgada sonora de punk e blues, que alimentou o capítulo inicial da sua carreira - cujo opus magnum será ainda o teatral, dramático, imoral e sedutor To Bring You My Love, de 1995, - e prossegue a via dos doze amargos episódios que compunham o magnífico Let England Shake, o qual, em 2011, serviu de pretexto para fazer a ponte entre o desmedido morticínio da Primeira Guerra Mundial e a hipocrisia da política contemporânea. Nessa linha, PJ Harvey, acompanhada pelo fotógrafo Seamus Murphy, decidiu explorar alguns dos mais recentes e devastados bairros sociais e palcos de guerra contemporâneos (leste do Anacostia, em Washington D.C., Kosovo e Afeganistão), e dessa proximidade no terreno arranca um notável, pujante e arrebatador conjunto de canções eléctricas no qual o saxofone e a percussão marcial assumem uma importância primordial. E é nesse irrepreensível mosaico musical que PJ Harvey, assumindo o papel de documentada repórter de guerra, expõe, com uma admirável precisão clínica, a arrepiante e inabitável realidade, macerada por múltiplas feridas que a crescente perversidade do poder, da religião e das desigualdades sociais impede de cicatrizar. Posicionando-se na dianteira como um dos indiscutíveis do ano, The Hope Six Demolition Project , vibrante colecção de onze corais eléctricos, plenos de acuidade melódica e insistência rítmica, será também, na linha de Let England Shake, um dos grandes discos políticos da última década.
The Wheel