Urso de Ouro, em 1977, no Festival de Berlim, Ascensão, da cineasta Larisa Shepitko - casada com Elem Klimov, uma das mais distintas figuras do cinema soviético, viria a falecer com 41 anos num acidente de viação - foi talvez o mais expressivo e assombroso filme sobre a invasão de leste pelos nazis, durante a Segunda Guerra Mundial, que tive oportunidade de ver. Da mesma autora foi ainda possível conhecer outros trabalhos, tais como Asas e Tu e Eu, no Grande Ciclo de Cinema Russo – Do Mudo À Perestroika. Quanto a Ascensão, longos e admiráveis planos-sequência, a par de um conjunto imenso de grandes planos com a capacidade única de revelar a alma dos protagonistas através do seu rosto, bem como o notável aproveitamento dramático da paisagem e do clima impiedoso, testemunham uma desesperada luta pela sobrevivência de um grupo de soviéticos capturado pelos nazis, na qual, entre os mais diversos e justificados comportamentos, sobressaem os daqueles que estão de acordo com a sua consciência. Culpa, traição, angústia, coragem e procura de uma verdade interior, manifestam-se ao longo do clima de tensão cunhado pelo formidável e sólido desempenho dos actores e pela prodigiosa direcção artística da cineasta Larisa Shepitko. Filme terrível e que implode numa violência surda quase insuportável? Sem sombra de dúvida. Mas tão magnífico e com uma impressionante força dramática.