Cinco anos depois de Ossessione (1943), filme-charneira do neo-realismo, Luchino Visconti volta, aparentemente, a abraçar a corrente estética neo-realista com La Terra Trema. E se, por um lado, o filme revela a costela comunista do cineasta natural de Milão – não se fala de outra coisa que não seja a exploração do homem pelo homem, ou seja, no caso concreto, da luta e da exploração dos pescadores sicilianos -, por outro lado, Visconti rejeita o simplismo dos «amanhãs que cantam», sobrepondo a sua visão pessimista e o seu humanismo desencantado.
É certo que o filme vive muito do improviso e do naturalismo, contudo, erguendo-se contra o rudimentar e genericamente aceite neo-realismo da época, habita no seu corpo um notável e apurado sentido cénico e operático, fruto da formação teatral do cineasta, que será a matriz estética dos seus filmes futuros. Visconti revela nesta obra um domínio profundo da sua estrutura formal, assente na complexidade dos planos e no requinte da mise-en-scène, os quais serão magnificamente explorados, entre outros, nos posteriores e magistrais Senso (1954), Rocco e I Suoi Fratelli (1960) e Il Gattopardo (1963).
E eu, burro, convencido que estava de conhecer o essencial da obra cinematográfica de Visconti, vi e deslumbrei-me com este filme, pela primeira vez, no passado mês de Julho.