a dignidade da diferença
19 de Março de 2013

 

 

«Não há provas de que a violência nos filmes ou na televisão provoque violência social. Procurar atirar as responsabilidades todas para cima da arte como causa de vida parece-me uma maneira de fugir ao problema… ignorando as suas principais causas. A arte remodela a vida mas não a cria, não a produz. Além disso, atribuir grandes capacidades de sugestão ao cinema choca com a experiência cientificamente comprovada segundo a qual, mesmo após uma hipnose profunda, em estado pós-hipnótico, uma pessoa não pode ser levada a fazer coisas que choquem com a sua própria natureza. Portanto, não aceito essa conexão casual vida-cinema. Mesmo supondo que assim fosse, eu diria que o tipo de violência que um impulso imitativo pode causar é um tipo “engraçado”: a violência que vemos nos filmes de James Bond ou nos desenhos animados de Tom e Jerry. Violência irrealista, higienizada, apresentada de forma burlesca… mas estou convencido de que nem isto tem realmente um efeito. Aliás, quase, quase dou razão à ideia segundo a qual efetivamente todo o tipo de violência no cinema tem um fim social útil, permitindo que as pessoas descarreguem, em jeito de substituição, emoções e instintos agressivos escondidos, que se exprimem melhor nos sonhos ou no estado onírico quando se assiste a um filme, do que em qualquer forma de realidade ou de sublimação.»

09 de Julho de 2011

 

 

Há dias, no blog Sound + Vision, João Lopes manifestou a sua preocupação pela actual e generalizada falta de educação cinematográfica. Dizia o conhecido crítico, com legítima preocupação, «como é que um espectador formado (?) apenas a ver filmes como este (Transformers 3) se pode alguma vez interessar por um épico de Griffith, um drama de Bergman ou uma comédia de Jerry Lewis? A resposta é simples: não pode. Porquê? Porque não sabe e, sobretudo, porque foi educado para não querer saber». Ontem, porém, numa conversa circunstancial que tivemos com uma colega de trabalho, verificámos que, felizmente, ainda não são todos assim. Dizia ela, com agrado e alguma surpresa, que o seu filho de 15 anos adorava ver os clássicos do cinema dos anos 40 ou 50, ao contrário dos colegas da mesma idade. Citava, como exemplos, o Citizen Kane, de Orson Welles, o VertigoA Janela Indiscreta, ambos de Hitchcock, ou A Laranja Mecânica de Kubrick. Filmes que ela, a propósito, aproveitava para (re)ver com o filho. E já estava convidada para assistir ao Dr. EstranhoAmor. Talvez ainda não se sinta a diferença entre este adolescente e os seus colegas. Mas, mais tarde, ela irá naturalmente revelar-se. É que um vai ter espírito crítico, vai saber que o cinema – e não só – tem memória, vai poder comparar o que se faz hoje com o que se fez ontem e, nessa medida, vai ter uma capacidade superior à dos colegas para avaliar e valorizar determinada obra em termos estéticos. Enquanto a ignorância vai impedir os colegas de distinguir o velho do novo – pois não se irão aperceber como, muitas vezes, aquilo que aparentemente lhes surje como novidade já foi, na realidade, criado anteriormente e até com uma qualidade francamente superior -, a educação contracorrente do filho da nossa colega vai atirá-lo, em princípio, para um patamar superior. Talvez nem tudo esteja perdido.

publicado por adignidadedadiferenca às 11:26 link do post
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