a dignidade da diferença
21 de Agosto de 2011

 

 

«Para Borges, a realidade residia nos livros; em ler livros, em escrever livros, em falar de livros. Intimamente tinha consciência de estar a prolongar um diálogo iniciado há milhares de anos. Um diálogo, em seu entender, interminável. Os livros restauravam o passado. “Com o tempo”, dizia-me ele, “qualquer poema se converte numa elegia.” Não tinha paciência para as teorias literárias em voga e acusava em especial a literatura francesa de não se concentrar em livros, mas em escolas e camarilhas. Adolfo Bioy Casares disse-me uma vez que Borges era o único indivíduo que, no que se refere à literatura, “nunca se entregou às convenções, ao hábito ou à preguiça”. Foi um leitor desordenado que se contentava, muitas vezes, com resumos do argumento e com artigos enciclopédicos, e que por muito que admitisse não ter acabado o Finnegans Wake, podia dar alegremente uma conferência sobre o monumento linguístico de Joyce. Nunca se sentiu obrigado a ler um livro até à última página. A sua biblioteca (que, como a de qualquer outro leitor, era também a sua biografia) reflectia a sua crença no acaso e nas leis da anarquia. “Sou um leitor hedónico: nunca consenti que o meu sentimento do dever interviesse num gosto tão pessoal como a aquisição de livros”.»

Alberto Manguel, in Com Borges, Ambar, tradução de Miguel Serras Pereira.

publicado por adignidadedadiferenca às 00:28 link do post
23 de Maio de 2008

 

O homem sem qualidades - Robert Musil (Tradução e notas de João Barrento)

 

 

Já existia uma edição anterior, publicada pela «Livros do Brasil», mas era opinião quase generalizada de que a tradução não estava à altura do acontecimento, havendo mesmo quem sentenciasse que todos os que leram a referida obra poderiam considerar como não o tendo feito. Eu fui um desses leitores.

 

Surge agora nova edição da «Publicações Dom Quixote» que entregou a gigantesca tarefa ao Prof. João Barrento, e, face ao prestígio do tradutor (e também às primeiras considerações feitas sobre a tradução), parece que desta vez é que é.

 

Robert Musil, nas palavras de João Barrento surgidas na contracapa dos dois volumes, um dos nomes do «quarteto revolucionário» na prosa das primeiras décadas do século XX - Proust, Joyce, Kafka, Musil -,  é um autor sem biografia, como dirá Hermann Broch, seu contemporâneo e compatriota: «Nenhum de nós tem propriamente uma biografia: vivemos e escrevemos, e é tudo.» Musil legou-nos alguns dos mais significativos fragmentos de literatura do século, cujos traços mais salientes são a complexidade dos seus perfis anímicos e o rigor da observação, da análise e da reflexão - uma obra que se orienta pelos princípios, contidos na fórmula lapidar que ele próprio cunhou, da exactidão e da alma.

 

Acabei de comprar os dois volumes. Para mim, a aventura vai começar.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:05 link do post
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