Com uma elegância e um talento literário admiráveis, Saul Bellow oferece um amplo espaço para uma profunda reflexão sobre um país controverso, permanentemente atormentado, onde mudam os protagonistas mas permanece o conflito. O modelo clássico da literatura de viagens serve como mero pretexto para Saul Bellow avançar rumo a uma visão histórica que abrange a cultura e a identidade judaicas, os seus problemas sociais e tensão política. E não há o mínimo receio de encontrar nesta obra quaisquer maçadoras certezas ideológicas, pois do que ele se alimenta é de conversas atormentadoras, de magníficas histórias humanas relatadas por gente comum, isto é, pelos inúmeros intervenientes que fizeram e ainda fazem a história de uma nação inevitavelmente acossada pela actual conjuntura geopolítica. Um livro imenso onde o autor, apesar da gravidade do tema, não dispensa, aqui e ali, um brilhante travo humorístico, e, numa história de contradições, crueldade e paixões, enche os seus personagens com uma densidade, dignidade e compaixão ímpares e absolutamente inesperadas. Como afirma Carlos Vaz Marques, no prefácio, Jerusalém Ida e Volta «é um livro político. Sê-lo-ia mesmo que o autor pretendesse evitá-lo. Como tudo o que diz respeito a Israel, é um relato votado, desde o início, à controvérsia.» Trata-se, em suma, da história de uma cidade, Jerusalém, que «não dá tréguas a quem a visita, onde em praticamente tudo se jogam questões de vida ou de morte.»