a dignidade da diferença
20 de Julho de 2014

 

 

Estreia esta semana The Immigrant - retrato de uma imigrante polaca que desembarca na Nova Iorque dos anos 20 do século XX, consumida por uma realidade bem longe do sonho americano que nos quiseram impingir -, o último e extraordinário filme do mais fascinante cineasta norte-americano da actualidade, James Gray. O filme revela as características já conhecidas do universo do autor - as personagens perturbadas, atormentadas e desesperadas, a exploração de um conceito muito peculiar de família - devidamente enquadradas por uma visão poética e emocional que, neste filme, atinge o cume do dramatismo, da culpa e da redenção. Uma visão comovente, mais contida, porventura, cujos protagonistas caminham, progressiva e paradoxalmente, à beira da explosão. Porém, não é apenas o filme que quero destacar. James Gray, na entrevista concedida ao semanário Expresso - conduzida por Francisco Ferreira -, deixou aos seus leitores ampla matéria para reflexão. Como esta ideia, por exemplo: «Eu sempre digo isto: temos que dar ao espectador o que ele precisa, não o que ele quer, porque dar-lhe o que ele quer é ser demagógico e assinar a maior das cobardias.» Um aviso que bem podia atingir, entre outros, os ideólogos da nossa televisão pública.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 21:58 link do post
29 de Dezembro de 2013

Mantém-se o critério que orientou a elaboração da lista dos meus livros preferidos de 2013: doze filmes (sendo do mesmo cineasta e tratando-se de obras que se complementam, o díptico de Ozu conta como um), correspondendo a um filme por cada mês de calendário. Contudo, dada a relativa escassez de obras que merecem ser efectivamente realçadas, volto a conjugar na minha lista filmes estreados nas salas de cinema com filmes editados no mercado de DVD, sem me preocupar com géneros ou hierarquias. Não quero, porém, deixar de referir a edição em DVD da monumental da Tetralogia do Poder, do russo Aleksandr Sokurov, assim como a notável edição a cargo da Midas Filmes da magnífica, raríssima e injustamente ignorada obra de Victor Erice. Quanto aos filmes estreados nas salas de cinema, é de louvar a resistência das pequenas distribuidoras independentes, direcionadas para uma minoria cinéfila, culta e interessada. E ainda, acima de todas, as obras do genial Ozu, realizadas em 1953 e 1962, e finalmente estradas comercialmente em Portugal, Viagem a Tóquio e O Gosto do Saké.

 

 Paul Thomas Anderson, O Mentor

 

Terence Davies, O Profundo Mar Azul 

 

 Victor Erice, Obra Completa (DVD)

 

Matteo Garrone, Reality

 

James Gray, Coleção de 3 Filmes (DVD)

 

Pablo Larraín, Não

 

Yasujiro Ozu, Viagem a Tóquio

 

Yasujiro Ozu, O Gosto do Saké

 

 Christian Petzold, Barbara

 

Hong Sang-soo, Noutro País

 

Aleksandr Sokurov, Tetralogia do Poder (DVD)

  

Quentin Tarantino, Django Libertado

 

Margarethe Von Trotta, Hannah Arendt

09 de Novembro de 2013

 

 

Só esta semana é que tive a oportunidade, com a publicação de uma caixa de três DVDs, de dedicar a necessária atenção à obra, ainda curta e insuficientemente louvada, do cineasta James Gray. O que une The Yards (Nas Teias da Corrupção) e We Own the Night (Nós Controlamos a Noite) diz respeito ao retrato hipertenso do (sub) mundo do crime, da droga, dos negócios corrompidos, da violência ou dos jogos de poder. James Gray filma este universo, destacando, contudo, a existência de uma espécie de código de honra em defesa da família – mesmo quando os seus membros percorrem percursos antagónicos -, na tradição americana de John Ford ou de Francis Ford Coppola, mas aqui, porventura, ainda mais acentuado. Se as respetivas histórias, só por si, já possuem a estrutura e o engenho suficientes para imprimir uma dinâmica e um ritmo assinaláveis, é, no entanto, a poesia do olhar que transparece através da câmara, assim como a sua densidade dramática (tanto na utilização da cor, como na subjetividade dos planos), que confere uma evidente personalidade ao cinema de Gray.

 

 

Por outro lado, o cineasta consegue ainda, num estilo silencioso e com uma prodigiosa contenção de meios, elevar as relações entre as personagens a um nível de emoção e intensidade tais que, no cinema americano, só o brilho do olhar de David Cronenberg - no ponto em que este o deixou em A History Of Violence e Eastern Promises - lhe é comparável. Por sua vez, Two Lovers (Duplo Amor) foge razoavelmente às características mais básicas dos filmes anteriores e narra, desta vez, sob um manto de romantismo, a história melodramática de Leonard, que se divide entre duas paixões. O filme, porém, escapa elegantemente aos estereótipos do cinema romântico contemporâneo e atravessa, ainda que de forma mais subtil, o universo típico do cinema de James Gray. São os casos da continuada parábola do filho pródigo, das personagens perturbadas e atormentadas, e da exploração, mais uma vez, de um conceito muito próprio da família americana. Aguarda-se pois, com redobrado interesse, o mais recente trabalho do cineasta, The Immigrant, ainda não estreado no nosso país.

 

 

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