Hoje revimos Luz de Inverno, de Ingmar Bergman, o nosso filme preferido dele logo após o genial Persona. Tivemos a oportunidade de assistir à mais absoluta interpretação de Ingrid Thulin e, sobretudo, de rever uma cena da qual já não nos recordávamos: o diálogo assombroso estabelecido entre o pastor Tomas Eriksson (representado por Gunnar Björnstrand) e o sacristão Algot Frövik. Na perspectiva deste último – que padecia de uma prolongada e dolorosa deficiência física – é dado nos Evangelhos um ênfase excessivo ao sofrimento físico de Cristo (e, por experiência própria, sabia bem do que falava) quando comparado com o abandono a que foi votado pelos apóstolos (sem excepção) – um deles, Paulo, chegou até a contradizê-lo – e pelo Pai. Naquele momento, crivado pelas dúvidas que lhe surgiram sobre a veracidade do que andara a pregar, isto é, confrontando-se com o definitivo silêncio de Deus, insuportável para ele foi o sofrimento moral. Arrepiante e inesquecível. Exemplo supremo - mas não único - de um filme espantoso sobre a tragédia das relações humanas, o silêncio, a razão e o vazio.
Outra das sequências admiráveis do filme...