Aleksandr Sokurov - Mãe e filho (1997)
Como muito bem refere Inês Pedrosa na sua última crónica no jornal «O expresso», poupa-se às crianças (e, digo eu, aos adultos), cada vez mais, o contacto com qualquer coisa que se assemelhe a uma realidade difícil, seja ela Os Lusíadas ou a morte de alguém, fazendo com que os meninos de hoje cresçam num mundo virtual, em que tudo tem de ser jogo e animação e festa.
Para contrariar esse descaminho, nada melhor do que este filme que conta uma história feita de coisas simples e duras. Aqui, mostra-se apenas(?) o carinho com que um filho trata a sua mãe durante os (últimos) dias em que esta sente a proximidade da morte. Ou seja, precisamente o contrário do que as pessoas desejam, hoje, ver e partilhar.
A recompensa está, porém, para quem, nele, souber ver a força esmagadora da natureza e uma profunda emoção e beleza estética.
Aqui mora, como se de um sopro divino se tratasse, a mais perfeita relação entre a pintura e as imagens em movimento, vivida nos anos 90 do século passado.
Um estilo único e admirável que se serve entre muitas outras coisas, dos interiores e dos castanhos de Rembrandt,
das paisagens de Harpignies,
do esplendor de luz e cor de Turner,
do génio da pintura moderna de Cézanne e da sua relação com a montanha,
e do impressionismo de Renoir
Mas o melhor, mesmo, é ver o filme.