a dignidade da diferença
02 de Agosto de 2012

 

 

A história da evolução e da vida não obedece a qualquer ordem ou lógica de progresso. O homem não é o ser mais complexo nem o objeto supremo da criação; apesar do impacto e do peso inegável da sua presença no planeta, o aparecimento do homem foi provavelmente imprevisível e a sua evolução correspondeu a uma série de alterações casuais das circunstâncias e dos meios geográficos. Na realidade, a tese que defende a ideia de que o homem é o culminar de uma evolução que começa nos micro-organismos e se estende pelos invertebrados, peixes e mamíferos, encontra-se viciada pelo facto de ser aquela que gostamos de ouvir. É assim que pensa, pelo menos, o paleontólogo Stephen Jay Gould. O enfoque de Gould, no magnífico Full House, sustenta que a variação, a espontaneidade e a diversidade são a realidade de grau mais elevado da excelência (numa comparação deliciosa com o full house num jogo de póquer), utilizando, para o efeito, variadíssimos exemplos, análises e enigmas, como forma de concretizar a essência do seu entendimento segundo o qual se deve «encarar a origem do homo sapiens como um acontecimento fortuito, não passível de repetição, não podendo os seres humanos ocupar qualquer posição privilegiada no topo ou constituir o culminar de alguma coisa». No fundo, como o autor de resto já defendia no anterior A Vida é Bela, é bem provável que o ser humano só tenha aparecido por mero acaso. O livro, dezasseis anos depois, mantém todo o fascínio.

publicado por adignidadedadiferenca às 01:10 link do post
11 de Setembro de 2008

 

Full House, A difusão da excelência de Platão a Darwin - Stephen Jay Gould (1996)

 

 

 

Eis uma visão polémica, mas fascinante, acerca da teoria da evolução. Stephen Jay Gould põe em causa, nesta obra e de um modo perturbante, as ideias a favor da evolução gradual das espécies – a natureza do progresso – que culmina no expoente máximo da complexidade; o aparecimento do Homem.

Gould sugere um caminho diferente, contestando aquilo que, muitas vezes, já adquirimos como verdade incontestável. Questionando com pertinência as teorias criacionistas e muitas das evolucionistas, o célebre paleontólogo insiste em afirmar que o aparecimento do Homem é meramente fortuito e nunca o resultado obtido com a evolução da vida no planeta que conduziu  ao que, erradamente, julgamos ser o grau máximo da complexidade da espécie.

Para defender a sua doutrina, Stephen Jay Gould socorre-se, como habitualmente, de uma linguagem clara e própria de um grande comunicador como ele sempre foi, tecnicamente rigorosa, cheia de exemplos notáveis e esclarecedores e de enigmas que vai decifrando ao juntar as várias peças do puzzle que estendeu durante a narrativa, transmitindo brilhantemente aos seus leitores aquilo a que se propôs: A verdadeira excelência na terra não se manifesta na complexidade, mas através da diversidade e da espontaneidade.

Um desafio ousado e de leitura obrigatória.

 

 

 

Deixo-vos com as suas próprias palavras:

 

«Full House é um guia do mesmo género de um dos meus livros anteriores, A vida é bela (1989). Em conjunto, estas duas obras apresentam uma perspectiva integrada e nada convencional sobre a história e o significado da vida – uma perspectiva que nos obriga a rever a noção que temos do estatuto humano nesta mesma história. Em A Vida é Bela afirmam-se a imprevisibilidade e a contingência de qualquer acontecimento particular da evolução e dá-se ênfase ao facto de devermos encarar a origem do Homo sapiens como um acontecimento fortuito, não passível de repetição, e não como uma consequência previsível. Em Full House apresenta-se o argumento geral que permite negar que o progresso defina a história da vida ou até que exista de forma alguma sob a forma de uma tendência. Nesta perspectiva da vida como um todo, os seres humanos não podem ocupar qualquer posição privilegiada no topo ou constituir o culminar de alguma coisa. A vida foi desde sempre dominada pelo modo bacteriano.»

 

Excerto do livro traduzido por Miguel Abreu. Editora: Gradiva. Edição: Agosto de 2000

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 19:16 link do post
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