a dignidade da diferença
15 de Setembro de 2013

 

 

Confesso que a música dos Everly Brothers nunca me agradou especialmente. Demasiado agarrada ao espírito da época, consistia numa preocupação excessiva com as harmonias vocais, amparadas em bonitas mas algo inócuas melodias e demasiado presas a um conceito estético despropositadamente pueril e juvenil, inconsistente e por desenvolver. Bonnie ‘Prince’ Billy e Dawn McCarthy – que criou, com Nils Frykdahl, os excelentes e praticamente desconhecidos Faun Fables –, recolhendo os ensinamentos da pop/folk profunda e clássica dos anos sessenta e setenta; a dos Jefferson Airplane, dos Steeleye Span e, especialmente, da trupe dos Fairport Convention (com Sandy Denny e Richard Thompson à cabeça), pegaram nas canções menos conhecidas que os Brothers criaram ou apenas interpretaram, e releram-nas sob uma nova perspetiva. Descobriram e associaram-lhe novos elementos sonoros, modificaram-lhe as arestas, pesaram e ampliaram-lhe o volume e desenvolveram a sua carga dramática, transformando quase milagrosamente as características exageradamente açucaradas da matriz original – indicada para duplas do género Simon & Garfunkel, uns anos antes de mudarem o curso da história da música pop, com as magníficos Bookends e Bridge Over Troubled Water –, num conjunto soberbo de peças musicais densas, elétricas, inesperadamente livres e amadurecidas. Ao disco chamaram-lhe apropriadamente What the Brothers Sang.

 

 

15 de Agosto de 2008

 

Faun Fables

 

Rectas e semi-rectas de folk contemporânea, arestas limadas por teatro pagão, música tribal, dramática e transparente. Tangentes à música do leste da europa aquecida pela etnia cigana e trespassada pela loucura visionária de uns quantos aventureiros das décadas de sessenta e setenta. Pelo menos, Tom Waits, Zappa e Beefheart (será, ou já estarei a ouvir vozes?). O regresso dos Hugo Largo e dos Jefferson Airplane devidamente triturados pela música erudita e de cabaret. Adições, subtrações. multiplicações e divisões feitas, o que resta?

 

Música inclassificável, diferente de tudo o que se ouve hoje em dia - e nem cheguei a falar da mise-en-scène espectral de Nico, nem do gelo trazido de «I want to see the bright lights tonight» - e, para a história, duas obras-primas e, para já, uma canção inadjectivável: Taki Pejzaz

 

 

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:26 link do post
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