«Embora existam razões para pensar que matar um ser consciente de si geralmente é pior do que matar outro tipo de ser, a maior parte dessas razões é favorável, e não adversa, à eutanásia, especialmente no caso da eutanásia voluntária. Ainda que este resultado possa parecer surpreendente à primeira vista, na verdade limita-se a reflectir o facto de que aquilo que os seres conscientes de si têm de especial é o facto de poderem saber que existem ao longo do tempo e que, caso não morram, continuarão a existir. Geralmente esta continuação da existência é intensamente desejada. No entanto, quando a existência futura expectável deixa de ser desejada, o desejo de morrer pode ocupar o lugar do desejo normal de viver, invertendo as razões para não matar que se baseiam no desejo de viver. Deste modo, pode-se sustentar que a defesa da eutanásia voluntária é muito mais forte do que a defesa da eutanásia não voluntária.»
Peter Singer in Escritos Sobre Uma Vida Ética, Publicações Dom Quixote. Tradução de Pedro Galvão, Maria Teresa Castanheira e Diogo Fernandes.