Existem, na verdade, razões apresentadas pelos entendidos em etimologia e em fonética que aparentemente podem ser aproveitadas pelas duas partes do conflito linguístico. Analisados no seu conjunto, os argumentos são manifestamente insuficientes para se tomar a defesa exclusiva de uma das causas, i.e., parece-me que existem boas razões para tomar partido por uma delas, mas reconheço que o contrário também colhe - não estou convencido do perigo de fechamento vocálico, mas, por outro lado, parece-me evidente haver uma contradição nas normas da hifenização. Contudo, já me parece difícil, em princípio, defender a suposta inconstitucionalidade do Acordo Ortográfico (AO), na medida em que não é a língua que muda, não é alterado o significado das palavras. Sou moderadamente contra o AO porque entendo que a nossa língua deve evoluir por si e não ser imposta por decreto e também porque, em bom rigor, ainda não estou convencido das vantagens trazidas pela aproximação dos idiomas (não irá, por exemplo, a supressão facultativa - ou, dito de outra forma, a dupla grafia - contra aquele princípio?). Mas não me choca um AO que procura aproximar os países que falam a mesma língua e irritam-me profundamente aqueles que afirmam que o AO põe em causa uma língua que é nossa e, como tal, fragiliza a nossa identidade, pois a língua também é propriedade dos outros povos, também os identifica. Razões profissionais obrigam-me a escrever de acordo com as normas do novo AO. Por conseguinte, pelos motivos apresentados e uma vez que não faz qualquer sentido utilizar duas formas de escrita consoante estou ou não no exercício da minha profissão, vou passar a escrever em função das novas regras. Trata-se, como vimos, de uma adesão mas não de uma defesa do novo AO.