Confesso que não consigo tomar uma posição definitiva sobre a adopção por casais homossexuais. Sobretudo porque não encontrei até hoje uma fundamentação suficientemente amadurecida quanto à sua substância. Para esta posição indefinida contribui também a circunstância de, segundo creio, não ter ainda havido um debate empenhado sobre uma matéria tão relevante e que trará profundas alterações no direito da família, à qual devo acrescer o facto de não serem conhecidos estudos cientifícos conclusivos sobre a matéria. Defendo sem reservas os direitos dos homossexuais; não obstante, neste caso entendo ser o direito das crianças adoptadas que está em causa. Neste sentido, observei com alguma preocupação a arrogância com que os partidos da esquerda maioritariamente representada no Parlamento acolheram as explicações do Presidente da República sobre o veto à lei da co-adopção. O romancista e ensaísta Claudio Magris, a propósito da natureza variável das convenções sociais, manifestou há anos uma série de inquietações que ainda hoje me parecem perfeitamente actuais e importantes. Magris sustentava, nesse ensaio, que os casais homossexuais negam a família e, simultaneamente, reclamam o direito de constituí-la. Aceitando a mudança das convenções sociais, Claudio Magris ia mais longe e acusava os casais homossexuais de falta de coragem. Com efeito, para ele, quem considera que a família não é o único nem o melhor ambiente em que pode crescer uma criança devia ter a audácia de propor que a adopção de uma criança não seja forçosamente por duas pessoas ligadas por um relacionamento sexual, questionando por que razão, seguindo essa linha de raciocínio, não pode também ser efectuada por um grupo de amigos ou uma comunidade, desde que formada por pessoas capazes de oferecer todas as garantias de que sabem tratar de uma criança. No entanto, tendo em consideração o mais recente comportamento da maioria parlamentar, duvido que haja condições para discutir as ideias a este nível…