a dignidade da diferença
20 de Maio de 2017

 

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Hoje, a situação mudou radicalmente. O socialismo, quando é, sequer, mencionado no contexto das teorias sociais, parece indiscutivelmente algo do passado, não se acredita que ele possa voltar alguma vez a despertar o entusiasmo das massas, nem se considera que seja adequado para apresentar alternativas inovadoras ao capitalismo actual. De um dia para outro – Max Weber esfregaria os olhos, admirado – os papéis dos dois grandes adversários do século XIX inverteram-se: o futuro parece pertencer à religião, enquanto força ética, enquanto o socialismo, pelo contrário, é visto como uma criação intelectual do passado. A convicção de que esta inversão aconteceu demasiado depressa, não podendo, portanto, constituir toda a verdade, é um dos dois motivos que me levaram a escrever este livro: quero tentar provar (…) que ainda existe uma faísca viva no socialismo, se houver determinação suficiente para libertar a sua ideia fundamental de uma estrutura de pensamento enraizada na primeira fase da industrialização, e se esta ideia for transplantada para uma teoria social, num novo enquadramento.

Alex Honneth, Die Idee des Sozialismus (A Ideia de Socialismo)

publicado por adignidadedadiferenca às 02:13 link do post
11 de Novembro de 2015

 

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«O resultado é geralmente uma dicotomia simples que apresenta os europeus como os agentes invariáveis do progresso num mundo que noutras partes continua agarrado à tradição. Já vimos que esta visão é difícil de sustentar. Existem três outras dificuldades. Em primeiro lugar, os elementos da modernidade (…) raramente se encontravam todos numa única sociedade. Em grande parte da Europa mal se descortinavam até tempos muito recentes. Mesmo aqueles países que consideramos os pioneiros da modernidade tinham fortes características pré-modernas. A escravatura foi legal nos Estados Unidos até 1863. A classe dirigente da Grã-Bretanha vitoriana era, de um modo geral, hereditária, e a religião continuava a ser crucial para a aspiração social e para a identidade. A América do século XX era uma sociedade de castas cujo distintivo era a cor da pele, usada para negar direitos civis e políticos a um grande segmento social até aos anos 60 ou mais tarde. A França pós-revolucionária circunscreveu os Direitos do Homem aos homens até 1945, quando as mulheres conquistaram o direito de voto. (…) A Alemanha nazi ou a Rússia soviética eram modernas? (…) Em segundo lugar, algumas das características essenciais da modernidade convencional encontravam-se também em regiões da Eurásia muito distantes da Europa. O caso clássico é a China, que desenvolveu uma burocracia moderna e meritocrática, uma economia comercial e uma cultura tecnológica muito antes da Europa. (…) Em terceiro lugar (…) parece possível que a expansão da Europa representou em parte um assalto deliberado às iniciativas modernizadoras de outros povos e Estados. O que terá vencido, talvez, não foi a modernidade da Europa mas a sua capacidade superior para a violência organizada.»

John Darwin, in “After Tamerlane. The Global History of Empire”

30 de Junho de 2012

 

 

«Em suma, a necessidade prática de Estados fortes e governos intervencionistas é indiscutível. Mas ninguém está a ‘repensar’ o Estado. Continua a haver uma grande relutância em defender o setor público com base no interesse coletivo ou no princípio. É impressionante que numa série de eleições europeias a seguir a uma desintegração financeira os partidos sociais-democratas tenham tido invariavelmente maus resultados; apesar da derrocada do mercado, eles revelaram-se manifestamente incapazes de estar à altura da ocasião. Se quiser ser novamente levada a sério, a esquerda tem de encontrar uma voz. Há imenso com que estar zangado: desigualdades crescentes de riqueza e oportunidade; injustiças de classe e casta; exploração económica interna e no estrangeiro; corrupção, dinheiro e privilégio a obstruírem as artérias da democracia. Mas já não bastará identificar os defeitos do ‘sistema’ e bater em retirada, ao género de Pilatos: indiferente às consequências. O exibicionismo retórico irresponsável das décadas passadas não foi muito útil à esquerda. (…) Toda a mudança é perturbadora. Vimos que o espectro do terrorismo é suficiente para lançar na desordem democracias estáveis. A mudança climática irá ter consequências ainda mais dramáticas. Muitas pessoas voltarão a depender dos recursos do Estado. Quererão que os seus líderes e representantes políticos os protejam: uma vez mais as sociedades abertas serão pressionadas a fechar-se sobre si, sacrificando a liberdade pela ‘segurança’. A escolha já não será entre Estado e mercado, mas entre dois tipos de Estado. Cabe-nos portanto reimaginar o papel do governo. Se não o fizermos, outros o farão por nós.»

Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Atuais Descontentamentos

 

14 de Maio de 2012

«Não é um livro que pretenda ser perfeitamente equidistante de ambos os lados. Eu vivi durante vários anos sob a ditadura de Franco, pelo que não posso desconhecer a repressão sobre os trabalhadores e os estudantes, a censura e as prisões. Apesar do que é reivindicado pelos apoiantes de Franco, não creio que Espanha tenha retirado qualquer benefício do pronunciamento militar de 1936 e da vitória nacionalista em 1939. Os muitos anos que dediquei ao estudo da Espanha anterior e contemporânea à década de 30 do século XX convenceram-me de que, apesar dos muitos erros cometidos, a República espanhola foi uma tentativa para proporcionar uma melhor forma de vida aos membros mais humildes de uma sociedade repressiva. É neste sentido que aqui deixo expressa a minha muito pouca simpatia pela direita espanhola, mas penso que serei compreendido.»

 

 

Paul Preston, professor de História Espanhola Contemporânea na Universidade Príncipe das Astúrias, diretor do Cañada Blanch Centre for Contemporary Spanish Studies da London School of Economics e membro da Academia Britânica, é autor, entre outras, das seguintes obras: The Coming of the Spanish War, The Triumph of Democracy in Spain, The Politics of Revenge: Fascism and the Military in Twentieth-Century Spain e Franco: A Biography.

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