A propósito da comemoração dos 40 anos do genial disco-manifesto «Tropicalia ou panis et circencis», que marcou oficial, colectiva e musicalmente o prodigioso movimento estético que recebeu o nome de tropicalismo, vou iniciar aqui uma rubrica dedicada ao assunto, através da voz do seu mais influente interveniente, Caetano Veloso, muito provavelmente, o maior compositor de língua portuguesa.
Parece-me a coisa mais justa e pertinente, pois, para mim, o tropicalismo é, ainda, o combustível que alimenta grande parte da óptima música que se faz hoje em dia em todo o mundo, através do seu multiculturalismo, da pilhagem de todos os detalhes e sinais exteriores sem que a música perca a sua identidade cultural ou a sua origem.
Partindo da sua matriz indiscutivelmente brasileira voou, livre e majestosamente, sobre o mundo, atravessando países e oceanos, devorando o tempo ao conjugar na perfeição presente, passado e futuro. Um exemplo para o mundo. Mais do que a bossa nova, o tropicalismo foi a mais importante e criativa revolução musical brasileira, e a que se mantém, ainda hoje, mais actual.
A partir de agora, como prometi, vou deixar falar Caetano, mostrando excertos do seu livro «Verdade Tropical», deixando, aqui e ali, sempre que julgue necessário, pequenas anotações inseridas no seu contexto, a que vou adicionando os já habituais vídeos e fotografias para dar um colorido mais vibrante à iniciativa.
Por aqui vão passar Caetano Veloso (naturalmente), Gilberto Gil, os magníficos «Os Mutantes», Nara Leão, Gal Costa, Tom Zé, o cinema novo brasileiro com Glauber Rocha à cabeça, a poesia concreta, o maestro vanguardista Rogério Duprat (essencial para a concretização da ousadia musical) e muitos outros. E também não vou deixar passar em claro o facto de Chico Buarque, que muitos, equivocamente, consideram o nome maior da música popular brasileira, apoiar, naquele momento vital de ebulição rítmica e geracional, o lado errado da barricada, ou seja, o do conservadorismo e do reaccionarismo estético.
Estejam atentos.