Confesso que me faz um pouco de confusão haver quem pretenda transformar o senhor Julian Assange e o seu WikiLeaks numa bandeira dos defensores da liberdade de expressão. Parece-me mais um preocupante mas esclarecedor sinal dos tempos, onde prevalece a ausência de critério para distinguir o que deve ser público daquilo que nunca deverá sair da esfera privada. Mas também não fiquei propriamente surpreendido. Nesta sociedade «pós-moderna» pisam-se desavergonhadamente conceitos éticos e morais, invade-se a privacidade das pessoas sob qual pretexto, sobretudo o do interesse público – tudo deve ser sabido por todos, nada deve ser privado. Pois bem, eu continuo a acreditar na existência de assuntos que, pela sua seriedade, merecem continuar na esfera do privado, designadamente quando mexem com questões tão sensíveis como a sobrevivência da civilização ocidental, o terrorismo e o perigo nuclear. Para terminar, não quero deixar de referir que, afinal, depois de tantas revelações, o rei vai nu. O que ficámos a saber, o tal secretismo inimigo da democracia - nada justifica, ao contrário do que se defende por aí, o conhecimento on-line da correspondência diplomática! -, não ultrapassa a mera coscuvilhice, a mais vil bisbilhotice. Mas fico cada vez mais preocupado com esta tendência para receber de braços abertos a exposição pública da nossa intimidade. Liberdade da expressão? Claro, mas sem esquecer o respeito por princípios éticos e morais que em circunstância alguma devem ser abandonados, sob pena de caminharmos a passos largos para o abismo.