Uma jovem operária a sair de uma depressão está prestes a ser despedida de uma fábrica de painéis onde trabalha. O seu posto de trabalho depende da escolha que o patrão colocou de forma ignóbil nas mãos dos restantes trabalhadores: como não pode sustentar a massa salarial, estes terão que optar entre a permanência da colega ou o prémio de mil euros a que têm direito no final do ano. Esta é a história que nos conta Dois Dias, Uma Noite, o mais recente filme de Jean-Pierre e Luc Dardenne. Retrato minimalista e ultrarrealista do elaborado percurso de desumanização do mundo capitalista, no novo trabalho dos Dardenne proliferam os detalhes naturalistas, a depuração dos enquadramentos ou os longos planos-sequência para descrever o sofrimento continuamente repetido de Sandra (superiormente interpretada por Marion Cotillard) no confronto com os seus colegas - o bater de porta em porta em busca do necessário gesto de solidariedade. Um filme essencial para compreender as mudanças nas relações sociais e laborais quotidianas, nas quais o patrão transfere cinicamente para os seus trabalhadores o ónus do despedimento dos colegas. A luta de classes já não é o que era…