a dignidade da diferença
22 de Dezembro de 2014

dois dias uma noite.png

 

Uma jovem operária a sair de uma depressão está prestes a ser despedida de uma fábrica de painéis onde trabalha. O seu posto de trabalho depende da escolha que o patrão colocou de forma ignóbil nas mãos dos restantes trabalhadores: como não pode sustentar a massa salarial, estes terão que optar entre a permanência da colega ou o prémio de mil euros a que têm direito no final do ano. Esta é a história que nos conta Dois Dias, Uma Noite, o mais recente filme de Jean-Pierre e Luc Dardenne. Retrato minimalista e ultrarrealista do elaborado percurso de desumanização do mundo capitalista, no novo trabalho dos Dardenne proliferam os detalhes naturalistas, a depuração dos enquadramentos ou os longos planos-sequência para descrever o sofrimento continuamente repetido de Sandra (superiormente interpretada por Marion Cotillard) no confronto com os seus colegas - o bater de porta em porta em busca do necessário gesto de solidariedade. Um filme essencial para compreender as mudanças nas relações sociais e laborais quotidianas, nas quais o patrão transfere cinicamente para os seus trabalhadores o ónus do despedimento dos colegas. A luta de classes já não é o que era…

 

 

 

02 de Junho de 2012

 

 

They Live, realizado em 1988, é uma das obras mais amarguradas e pessoais do seu autor, o maverick John Carpenter. Aproveitando uma história onde extraterrestres se escondem atrás de máscaras humanas, dominando a América através de mensagens subliminares que só poderão ser detetadas por meio de óculos especialmente fabricados para o efeito, Carpenter testemunha e denuncia a standardização comercial e a uniformização de pensamento, a estupidez de quem se resigna com o consumo banal de fórmulas pré-fabricadas, e confronta-se com o conservadorismo e a apatia excessivos, revelando a tensão e o medo de uma realidade filmada a preto e branco. Fá-lo de uma forma portentosamente eficaz, explorando ao máximo o mínimo de recursos disponíveis, num exemplo maior de frontalidade e integridade artística, de economia narrativa na apresentação da história e das personagens, do modo como usa o espaço (o subterrâneo, sobretudo), os movimentos de câmara ou a montagem. Filme sombrio e independente, crítico feroz da América como modelo de um capitalismo selvagem, radical e detestável, They Live, cada vez mais atual - e está aí a passagem do tempo para o confirmar - é um dos grandes filmes políticos da história do cinema, um intenso libelo pela defesa da liberdade.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 12:41 link do post
07 de Fevereiro de 2012

 

Ou temos Estado-providência ou o Estado mínimo. Ou se vive do crédito para financiar os direitos adquiridos ou falta a assistência social e ficamos entregues ao sabor dos ventos e marés da iniciativa privada. Ou nos acomodamos ao Estado paternalista ou somos pisados pela liberalização dos mercados, esquecendo, quem nos governa, levianamente, a estrutura do tecido produtivo existente privatizando tudo sem qualquer critério. Uns, parasitas, valem-se do eterno recurso ao crédito para financiar a economia, alojar os amigos e, vá lá, melhorar as condições de vida da população, mas esquecendo-se que o filão um dia acaba; os outros, loucos, alimentam-se de uma crença irracional nas supostas virtudes do neoliberalismo económico como elemento vital para o bem-estar social (não nos poupando, sequer, à triste e surreal figura do nosso ministro das finanças a pedir aos portugueses um aumento da poupança depois do governo lhes esvaziar os bolsos com mais e mais impostos, com mais e mais sacrifícios). Esquecemos o despesismo incontrolado e a falência técnica do Estado Social, ignoramos o pesadelo da ganância do capitalismo selvagem que aumenta pornograficamente e cada vez mais o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Neste mundo é assim. Não nos dão qualquer hipótese: ou oito ou oitenta. Ninguém aprende com os erros do passado. Será assim tão difícil encontrar um ponto de equilíbrio que junte num só conceito as virtudes dos dois modelos económico-sociais eliminando a maior parte dos seus defeitos, i.e., não restringir para além do razoável a livre iniciativa privada e possibilitar uma repartição da riqueza mais justa e proporcional ao esforço de cada um?
publicado por adignidadedadiferenca às 23:49 link do post
07 de Maio de 2011

 

Parcerias Público-Privadas (PPP), o paradigma da velha máxima: o Estado assume todos os riscos, os privados ficam com os lucros. Não há quem trave a fundo mais esta pouca-vergonha nacional? Não por acaso, cada vez encontramos mais razões para não sentir um especial orgulho pelo facto de termos nascido aqui; um sentimento que Sérgio Godinho, num momento de notável inspiração, esclareceu no seu magnífico disco de estreia, Os Sobreviventes (1971): «Vim / ao mundo por acaso / em Portugal, não tenho pátria / sou sozinho e sou da cama dos meus pais». Fiquem, a propósito, com este vídeo simples, mas exemplar na forma como ajuda a compreender algumas coisas. Nesta matéria, a música é outra...

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 19:50 link do post
06 de Novembro de 2010

 

Não posso deixar de referir neste blog a recente e muito elucidativa entrevista dada pelo histórico do PS, Henrique Neto, ao Jornal Económico. Reparem bem com que gente é que andamos metidos e porque motivo o nosso país caminha a passos largos e seguros para o precipício. Sem prejuízo do efeito nefasto que o capitalismo internacional, diabólico, selvagem e devorador, provoca em muitos Estados modernos europeus. Ora são os mercados que um dia confiam no país, no outro já não, ora é o FMI que diz e se contradiz, ora são as agências de rating completamente «maradas», ou os juros que descem, sobem, tornam a descer e voltam a subir enquanto nada acontece que o justifique em tão curto espaço de tempo. Mas voltemos ao nosso primeiro-ministro e aos excertos da entrevista.

 

 

«Sócrates é um vendedor de automóveis que está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto». Henrique Neto recorda que da primeira vez que viu Sócrates discursar pensou: «Este gajo não percebe nada disto. Mas ele falava com aquela propriedade com que ainda hoje fala sobre aquilo que não sabe». Adianta e recorda-se de pensar a seguir: «Este gajo é um aldrabão. É um vendedor de automóveis». «Sempre achei que o PS entregue a um tipo como Sócrates só podia dar asneira. Tem três qualidades, ou defeitos: autoridade, poder, ignorância. E fala mentira». Henrique Neto descreve a forma como decorreu a última comissão política do PS, no dia em Sócrates apresentou as medidas de austeridade. Conta que o secretário-geral do PS convocou a reunião de última hora, «para ninguém ir preparado», e organizou os trabalhos para que «o grupo dos seus fiéis fizesse intervenções umas a seguir às outras». «A ideia dele era que o partido apoiasse as medidas», afirma. «Aquilo é uma máfia que ganhou experiência na maçonaria. Sócrates entrou por essa via e os outros todos também. Até o Procurador-Geral da República. Usa técnicas de maçonaria para controlar a verdade. Não tenho nada contra José Sócrates. Se ele se limitasse a ser um vendedor de automóveis. Mas ele é primeiro-ministro e está a dar cabo do meu país. Não é o único, mas é o mais importante de todos» Ver aqui e também aqui.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 12:11 link do post
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