a dignidade da diferença
01 de Junho de 2015

 

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Para Camané, como o próprio afirmou há dias à Blitz, o fado (ou a canção) é uma coisa séria. Daqui se retira que o seu espaço musical não é, positivamente, povoado de cantiguinhas. Conduzindo a máxima depuração sonora à máxima expressividade, o rigor interpretativo de Camané assimilou progressivamente a composição teatral de José Mário Branco - um dos maiores estetas da música portuguesa contemporânea – entrelaçando textos e melodias, numa escrita simultaneamente fina e austera, ampliando a riqueza e o significado das palavras de alguns dos maiores poetas e escritores de língua portuguesa. Não obstante a dificuldade em destacar temas num disco que prima pela sua unidade e pelo princípio de que «todo o cuidado é pouco», sobressai, ainda assim, o quase-murmúrio de Triste Sorte, o notável e delicioso swing de Ai Miriam, a gravidade de Chega-se a Este Ponto, a sedução de Quatro Facas ou a tocante solidão de Aqui Está-se Sossegado. A voz de Camané, como muito bem ilustra o documentário que acompanha o disco, vem «de dentro» e renova-se a cada instante, serena, vibrante. Não abdicando da acuidade melódica da viola de Carlos Manuel Proença, do fraseado e do inacreditável som da guitarra portuguesa de José Manuel Neto, ou da presença tão discreta quanto essencial de Carlos Bica - sublime trio de instrumentistas que o acompanha meticulosamente -, Camané atingiu, no seu mais recente álbum de originais, Infinito Presente, o cume da sua arte da contenção, configurando-se como brilhante contraponto aos excessivos malabarismos vocais que por aí habitam.

 

 

01 de Janeiro de 2011

 

2010 foi um óptimo ano para a música portuguesa. Não houve rupturas assinaláveis das regras anteriormente estabelecidas, mas aconteceram muitas coisas formidáveis: coordenadas desencontradas, pontos de vista singulares, estruturas musicais desalinhadas, isto é, uma série notável de novos segmentos que conduziram a música num sentido estético convergente: mais importante que o género é a marca de autor, o traço de personalidade. Pela primeira vez, em muitos anos, foi difícil encontrar um top 10. E ainda ficaram de fora belos nacos de poesia sonora como foi o caso de What Is All About dos Johnwaynes, V de Tiago Guillul, Equilíbrio dos Balla, Madrugada dos peixe:avião, ou Utopia dos Expensive Soul. Da lista, destaque sobretudo para os regressos de Pedro Burmester e dos Pop Dell'Arte.

 

 

AbztraQt Sir Q, Extimolotion

  

 

B Fachada, É Pra Meninos

 

 

Pedro Burmester, Schubert/Schumann

 

 

Camané, Do Amor e Dos Dias

 

 

Galandum Galundaina, Senhor Galandum

 

 

Mário Laginha Trio, Mongrel

 

 

München, Chaquiego

 

 

Lula Pena, Troubadour

 

 

Pop Dell'Arte, Contra Mundum

 

 

Zelig, Joyce Alive!

17 de Maio de 2008

 

Sempre de mim (2008)

 

 

Ao contrário de outras vozes, Camané dispensa, voluntariamente, o exibicionismo vocal, e ensina-nos, em contrapartida e em dezasseis novos capítulos sonoros a preto e branco, como a austeridade e a depuração do seu canto está ali «apenas» para dar sentido aos textos e às melodias, vem directamente da alma e expõe-se, por isso, às verdadeiras e sentidas amarguras que a vida lhe (nos?) traz.

Chega e sobra, neste caso, para tornar o fado profundamente moderno, sem meter uma unha na tradição. Começa a ser, até, quase maníaco o desapego que Camané sente pela inovação, condescendendo, enfim, aqui e ali, como suporte instrumental, ao uso do contrabaixo como variante única das habituais e tradicionais viola e guitarra portuguesa.

Passo a passo, disco a disco, com o apoio essencial de José Mário Branco, o fadista vai semeando um caminho cada vez mais ímpar e apaixonadamente solitário  na música portuguesa, gesto apenas ao alcance dos autores maiores.

Naturalmente, até hoje, o mais sério candidato a disco do ano português.

 

Sei de um rio

publicado por adignidadedadiferenca às 01:03 link do post
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