a dignidade da diferença
02 de Fevereiro de 2013

 

Cinco Banhistas Perto de um Lago (1911), Kirchner

 

«Outra obra-prima é Cinco Banhistas Perto de um Lago, concluída em 1911. Folheando um livro de arqueologia, Kirchner viu ilustrações de murais budistas das cavernas indianas de Ajanta, a nordeste de Aurangabad. “Estas obras tornaram-me quase desesperadamente encantado. Esta incrível autenticidade de representação aliada à monumental serenidade de forma era algo que eu pensava ser impossível de atingir; todas as minhas tentativas pareciam vazias e inseguras. Eu copiei muitas particularidades destas imagens, apenas numa tentativa de atingir o meu próprio estilo”, escreveu Kirchner posteriormente no seu diário. As suas cópias concentravam-se em pinturas do elegante estilo do período gupta dos séculos V e VI. Ele estava a reagir a uma arte verdadeiramente clássica que tinha atingido a perfeição da expressão. A sensualidade das figuras femininas refletia-se na plasticidade dos seus corpos, seios e coxas cheios, ancas largas, gestos graciosos. Segundo as próprias palavras do artista, elas “são totalmente superfície, embora absolutamente corpos, tendo assim resolvido totalmente o mistério da pintura”. Kirchner conseguiu traduzir esta solução aparentemente simples para os termos do seu próprio idioma formal. Ao voltar-se para a arte de Ajanta, o seu interesse pelo estilo fauvista plano logicamente decresceu, e ele começou a dedicar toda a atenção à profundidade, plasticidade e cores mais suaves. Ao dominar estes princípios de desenho, Kirchner atingiu em Cinco Banhistas um equilíbrio praticamente clássico entre a bi e a tridimensionalidade que rivalizava com a de Cézanne na sua soberba pintura Banhistas que, igualmente, pretendia dar forma a um paraíso terrestre de equilíbrio e harmonia entre o homem e a natureza. A visita de Kirchner à magnífica exposição de Cézanne, em novembro de 1909, na Cassirer em Berlim, onde ele fez esboços de muitos espécimes, tinha dado frutos. Como disse Lucius Grisebach, o revolucionário expressionista “que surgiu em cena declarando que tinha deixado para trás as tradições” olhava “no entanto continuamente para a história da arte” e punha-se “por assim dizer, em pose perante ela”.»

 Norbert Wolf, Ernst Ludwig Kirchner, À Beira do Abismo do Tempo

 

Banhistas (1895-1904), Cézanne

 

27 de Junho de 2008

Hoje chamo a atenção para o nascimento oficial do cubismo, com Pablo Picasso e Georges Braque, servindo como exemplo «Les Demoiselles d’Avignon» (1907), do primeiro, e «Maisons à L’Estaque» (1908)  de Braque.

 

E, como não podia deixar de ser, realce, inevitável, para um dos principais precursores do cubismo:  Paul Cézanne. São demasiado evidentes em «Baigneuses» (1875-1877) e «A cabana de Jourdan» (1906) as formas que vão inspirar os dois autores cubistas, merecendo destaque especial a semelhança surpreendente entre vários motivos de «Baigneuses» e «Les Demoiselles d’Avignon», como o pano pendurado no tronco de árvore do quadro de Cézanne que surge na pintura de Picasso como um tecido de fundo, e, mais notória ainda, a pose adoptada por duas banhistas em «Baigneuses» que é transcrita da mesma maneira em duas das figuras da obra do pintor espanhol (a que está em pé do lado esquerdo e a de cócoras).

 

Na pintura de Braque, existem naturais contactos com as representações de paisagens de Cézanne.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:07 link do post
20 de Fevereiro de 2008

Aleksandr Sokurov - Mãe e filho (1997)

 

Como muito bem refere Inês Pedrosa na sua última crónica no jornal «O expresso»,  poupa-se às crianças (e, digo eu, aos adultos), cada vez mais, o contacto com qualquer coisa que se assemelhe a uma realidade difícil, seja ela Os Lusíadas ou a morte de alguém, fazendo com que os meninos de hoje cresçam num mundo virtual, em que tudo tem de ser jogo e animação e festa.

Para contrariar esse descaminho, nada melhor do que este filme que conta uma história feita de coisas simples e duras. Aqui, mostra-se apenas(?) o carinho com que um filho trata a sua mãe durante os (últimos) dias em que esta sente a proximidade da morte. Ou seja, precisamente o contrário do que as pessoas desejam, hoje, ver e partilhar.

A recompensa está, porém, para quem, nele, souber ver a força esmagadora da natureza e uma profunda emoção e beleza estética.

Aqui mora, como se de um sopro divino se tratasse, a mais perfeita relação entre a pintura e as imagens em movimento, vivida nos anos 90 do século passado.

 

Um estilo único e admirável que se serve entre muitas outras coisas, dos interiores e dos castanhos de Rembrandt,

 

 

das paisagens de Harpignies,

 

 

do esplendor de luz e cor de Turner,

 

 

 

 

do génio da pintura moderna de Cézanne e da sua relação com a montanha,

 

 

 

 

e do impressionismo de Renoir

 

 

 

 

Mas o melhor, mesmo, é ver o filme. 

 

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:39 link do post
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